sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Areia para os olhos

Foto AQUI
Que post desconcertante! "Temperatura is not the only thing rising".
Vejo um leito de cheia transbordado e um polidesportivo (eventualmente) mal localizado. 
A propósito dos mais recentes dados sobre o tal aquecimento global, faz algum sentido atirar-nos areia para os olhos? 
Mais do que nunca faz sentido sermos Ecologistas de verdade, e focarmo-nos efectivamente no essencial. As alterações climáticas acontecem pelas alterações de uso do solo e os seus impactos e efeitos são dramáticos e sentem-se todos os dias. Alterações de uso do solo produzem a fragmentação dos ecossistemas e alteram o seu funcionamento, culminando na extinção de espécies e na degradação da Biodiversidade. 
Alterações de uso do solo produzem alterações climáticas locais, aumentando o regime pluviométrico, alterando por exemplo o ciclo das culturas agrícolas. Por exemplo, alterações de cobertos arbóreos espontâneos por outras espécies é uma alteração de uso do solo significativa, não se deve considerar apenas a sua impermeabilização.

No litoral, a alteração da deriva litoral aumenta a erosão costeira e fragiliza mais ainda áreas sensíveis.
Em meio urbano, alterações de uso do solo tendem a radicalizar fenómenos que de outra forma seriam normais, tais como cheias ou aumentando os fenómeno da "ilha de calor". 

Temos que actuar com urgência nestes aspectos que referi através de medidas concretas ao nível do ordenamento do território. O pior que poderia acontecer é continuarmos agarrados a esta indefinição à escala global enquanto destruímos localmente o nosso planeta. 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os patos de Ribeiro Telles e os ciclistas que aparecem

(Estacionamento de bicicletas num serviço da Câmara Municipal de Lisboa)
As ciclovias, em Lisboa e não só, são sempre um tema quente para muita gente. Não fujo a ele.
Conheço os seus defeitos e as suas perversidades e sei que em muitos casos são uma forma de compromisso determinados volumes de tráfego. 
Mas as suas vantagens são evidentes. Atraem gente para o uso da bicicleta, criando massa crítica para, ao poucos, se irem adoptando soluções de partilha da via. 
O número de ciclistas em Lisboa tem aumentado a olhos vistos e as tais ciclovias de que muitos não gostam estão efectivamente cada vez mais utilizadas. Há cada vez mais gente a ir de bicicleta para o trabalho ou para a escola.
À semelhança de outras cidades muito motorizadas têm cumprido muito bem o seu papel de fazer mudar costumes e em muitos casos trouxeram a qualificação de ruas e avenidas, associado a zonas verdes e melhor e4spaço público. Agrada-me ver isso reconhecido. Paula Moura Pinheiro escreveu esta crónica que abaixo retrato porque é alguém que é fora do chamado "meio ciclista". E talvez esse afastamento seja muito importante:

"NATUREZA, por Paula Moura Pinheiro, FONTE AQUI

Há uns anos tive uma das saídas mais cretinas que já me aconteceram em contexto profissional. Estava a seguir Gonçalo Ribeiro Telles para uma reportagem sobre as obras que viriam a resultar no Jardim Amália Rodrigues, no topo do Parque Eduardo VII, em Lisboa. A dado passo, o arquitecto diz: “tem de imaginar que aqui será o lago. Está a ver? Isto tudo água, com uma série de patos…” E eu digo: “Ah, patos. Que bela ideia. Vão pôr patos aqui.” O velho senhor fixa-me devagar: “Não. Não vamos pôr patos em lado nenhum. Vamos criar as condições – um lago – e os patos aparecem naturalmente. Olhe, muito provavelmente alguns virão do lago da Gulbenkian.”

Glup. Pois claro. Criam-se as condições e as coisas acontecem.

Nunca mais me esqueci deste diálogo. Não tanto por ter feito de tonta com um velho sábio, mas porque os patos, efectivamente, apareceram. Ao longo dos anos tenho testemunhado como são muitos e vivazes, como chegam e partem livremente. Apenas porque ali encontram condições apetecíveis, adequadas.

Quando em Lisboa se começaram as obras para os percursos pedestres e para as ciclovias não faltou a habitual vozearia contra o despesismo e o transtorno e a falta de lugares de estacionamento. Na minha família, os mais velhos foram particularmente críticos. Para quê? Quem é que vai andar de bicicleta ou correr na cidade das sete Colinas?! E eu sismava nos patos. Criam-se as condições e eles aparecem. Talvez, dizia para comigo, talvez o sedentário lisboeta se ponha finalmente a pedalar ou a fazer corridas ao fim da tarde.

Hoje, é vê-los. São tantos, são cada vez mais. Criam-se as condições e as coisas acontecem. A natureza tem tanto para nos ensinar."

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Alhos e Bugalhos

Sobre os fogos, Henrique Pereira dos Santos escreve um artigo focado numa coisa: provar, assente nos dados, que os eucaliptais geridos intensivamente não ardem mais. É bom que se esclareça esta questão, mas a mim não me dá nenhum dado relevante sobre o problema central territorial. Deve ser bom para as celuloses que o seu ganha-pão não arda e, por isso mesmo investem os meios necessários para serem bem sucedidos, mas e daí?
É que os eucaliptais intensivos ardem menos, tal como ardem menos os pinhais cujos sub-cobertos sejam limpos. E a mesma coisa se aplicará a todos os bosques ordenados. O ponto fulcral é a medida de comparação. Arde menos em relação a quê? Aos matos, aos eucaliptais mal geridos, aos pinhais mal geridos, aos carvalhais? 
A "mata" versus "floresta" é de certeza um bom ponto de partida de comparação, nomeadamente de todos os serviços que cada um presta à comunidade. Há uns tempos falou-se muito deste documentário da BBC sobre o montado, e ficou bem clara a dimensão dos serviços ecológicos em presença, a que os eucaliptais jamais se compararão. É que depois há "matas" e "matas" e há "florestas" e "florestas". O fogo é importante mas gostava de saber uma avaliação global de todos os impactes. É certo que o artigo se foca no fogo e era aí que se pretendia chegar.
E este meu post também não pretende concluir que não deva haver eucaliptais, mas sim que o ordenamento florestal devia impedir a sua proliferação, a sua implantação excessiva face à capacidade dos solos, e mais ainda impedindo, por exemplo, que se possa plantar eucalipto em pequenas explorações de forma livre, tal como a nova legislação agora permite. 
E uma coisa é certa: a diversidade agro-florestal é, com toda a certeza, a melhor forma de evitar os fogos. O pastoreio, a existência de alternâncias, a garantia do funcionamento dos escossistemas naturais através de corredores e bolsas de vegetação natural. 
Focar a discussão em que o eucalipto intensivo arde menos é escrever por torto por linhas tortas e daqui não resultará nada de produtivo neste âmbito.

sábado, 7 de setembro de 2013

Quando a arquitectura é um perigo à solta (II)

A quantificação dos erros de arquitectura é frequentemente incerta e de dificil quantificação.
Um mau projecto pode conduzir, por exemplo, a duradoiros gastos energéticos, pode destruir o enquadramento paisagistico de uma determinada área, pode alterar o albedo de uma rua e contribuir para o efeito da ilha de calor, entre vários factores cujos prejuízos são, normalmente, dificilmente imputáveis aos seus autores. 
Nos últimos tempos tem havido alguns casos em que os erros são, aparentemente, mais facilmente quantificáveis, designadamente os recentes casos do acórdão do tribunal Italiano para a ponte de Calatrava e os impactes terriveis do edifício de Rafael Viñoly em Londres, onde se estrelam ovos na rua tal a temperatura gerada pela reflexão luminosa das suas fachadas.
Eu gostaria que estes exemplos aberrantes servissem, para além dos custos que a justiça entenda que é justo cobrar, como exemplos de como a arquitectura está numa fase perigosa da sua história, onde o arquitecto perdeu muitas vezes as bases da concepção arquitectónica e onde se permite desenhar o que se entende, sem nenhuma relação com o sítio, sem nenhuma preocupação ambiental, sem nenhum critério para além o da própria formalização que o próprio arquitecto entende, livremente, para a sua obra.
É tempo de pensarmos a sério sobre isto, em nome do bem comum.
Foto AQUI
 
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