Se aceitarmos a abstracção que constitui simplificar todos os processos de dinâmicas energéticas ao CO2, sabendo distinguir que reduzir CO2 num processo normalmente é também reduzir a ineficiência energética, mas que por vezes essa questão não é tão linear do ponto de vista da eficiência (ex: P: o que capta mais CO2, um eucaliptal ou um sobreiral? R: o eucaliptal. P: Mas e em termos de dinâmica global? R: ...), poderemos ver com bons olhos a maioria das acções que visam a redução carbónica.
Mas, por de trás do CO2 está, tantas vezes, o discurso das energias limpas, ou seja, energias que não emitam carbono, incluindo o "limpo" nuclear. Daí que o nuclear subverta, pela sua aparente "limpeza carbónica", o processo energético global, já que permite, sem emissões "na fonte" manter os processos energéticos ineficientes.
Já sem falar dos perigos do nuclear, por estes dias sobejamente conhecidos pelas piores razões, o caminho a seguir terá que ser eficiência energética e energias renováveis, mas tendo em conta que muito provavelmente o balanço (energias renováveis - gastos energéticos) não permite continuar a ter a vida que temos.
Perguntam-me: Para continuar a vida "que temos", prefere centrais nucleares ou centrais a carvão? Centrais a Carvão, certamente, mas começo a pensar que é quase inevitável não começarmos a questionar o estilo de vida que levamos, que conduz a uma reflexão mais vasta que passa, por exemplo, por analisar os modos como é contabilizada a nossa produção interna (PIB), ou seja, mais produção melhor desempenho.
Mas, o descrescimento sustentável teria muitas vantagens em ser colocado em cima da mesa, implicando até começar a analisar e avaliar o desempenho produtivo através de outras variáveis. Fazer uma estrada ou uma casa, por mais ineficiente que cada uma dessas estruturas represente, significam bem mais para o "crescimento / facturação" nacional do que, por exemplo, semear prados que captam muito CO2, não pelo CO2 em si mesmo, mas porque se trata apenas de acelerar o processo normal do ciclo carbónico de fazer crescer matéria orgânica, que no caso concreto acaba com pastos naturais para gados autóctones, a carne do futuro, não estabulada, saudável e que deve ser consumida em menores quantidades e menos vezes por semana.
Eis pois um processo em que a ideia do CO2 vem a calhar.
IMAGEM E PROJECTO EXTENSITY AQUI
ARTIGO AQUI
"Pastagens ajudam clima
27.04.2011
Ana Fernandes
Por estes dias, extensas áreas do Alentejo, Ribatejo e Beira Interior tingem-se de roxo. Mas para além das razões estéticas, estes campos prestam um enorme serviço ao país: retêm carbono da atmosfera, contribuindo para que Portugal cumpra o compromisso de Quioto. Hoje já abrangem o equivalente a três vezes a cidade de Lisboa e daqui a dois anos prometem ser o dobro.
O projecto Terra Prima – Fundo Português de Carbono nasceu em 2009 e assenta num novo conceito de pastagens, desenvolvido por David Crespo, que criou um sistema que mistura 20 espécies de sementes diferentes, que se complementam e maximizam. Com estas pastagens, os agricultores ganham em diversas frentes – além de serem altamente nutritivas para os animais, sequestram carbono, aumentam a matéria orgânica no solo evitando-se assim a desertificação que avança em várias regiões do país e ainda são uma arma contra os incêndios pois interrompem o contínuo dos matos e arbustos.
Mas é sobretudo o seu valor na luta contra as alterações climáticas que se revelou compensador. O seu êxito – consegue reter cinco toneladas de dióxido de carbono por hectare por ano – levou a que o projecto fosse financiado pelo Fundo Português de Carbono, que apoia investimentos que permitam reduzir as emissões. Os agricultores são assim recompensados pelo contributo que dão para que o país cumpra Quioto, recebendo 150 euros por hectare.
O projecto da empresa Terra Prima, que resultou de um spin-off do Instituto Superior Técnico, conta já com 500 agricultores e 27 mil hectares de implementação, prevendo-se que atinja o dobro da área nos próximos dois anos. Na próxima sexta-feira é apresentado oficialmente em Portalegre.
O Fundo Português de Carbono é um dos instrumentos que contribui para o esforço português para cumprir as metas de Quioto. Além deste, que financia projectos nacionais e internacionais que permitam reduzir as emissões nacionais, há ainda o Programa Nacional para as Alterações Climáticas - que estabelece as políticas sectoriais para reduzir as emissões - e o Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão - que estabelece o limite de emissões a que cada indústria tem de obedecer. "
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