Hoje foram anunciadas algumas medidas para a Avenida da Liberdade no âmbito das alterações de tráfego.
Desde cedo senti que as melhorias eram evidentes, no global.
Ah, falo como peão, claro.
É que esta avaliação parece estar a ser feita unica e exclusivamente por automobilistas.
Eu, como peão, nunca como nos últimos meses caminhei tanto na Avenida da Liberdade. O tráfego nas faixas laterais diminuiu estrondosamente e caminhar, quer junto às fachadas, quer ao longo das plataformas centrais, passou a ser muito mais fácil. Para quem gosta das esplanadas da Avenida, estes meses foram uma melhoria evidente. O comércio não se queixou das medidas.
Como se espera, e ao contrário da percepção que se tem nestes assuntos, não devem ter perdido por estas alterações. O peão é quem mais ordena no comércio de rua. E quem faz do carro o seu modo de vida e que gere as asuas acções em função deste, há outros locais, como os Shoppings, feitos à medida do automóvel.
Ganham-se uns, perdem-se outros.A Baixa e a Avenida da Liberdade não devem competir com os Shopings, até porque o que têm para oferecer não tem igual. Para mais, na Avenida o turista tem muita força e o turista ainda por cima não tem, em regra, carro.
Tinha tido essa percepção clara da potencialidade deste eixo para o peão em Junho de 2011, como se vê na foto inicial. Foi uma experiência, mas de repente a "Auto-Estrada" de 10 faixas de rodagem e 4 de estacionamento, de repente, calou-se e pudemos ver crianças a correr atrás de pombos, foi possivel estar sentado nos bancos, calmamente, a contemplar.
Também percebi, mais por relatos que por experiência, que a fluidez do tráfego tinha um ou outro ponto fraco. Demorava-se mais a subir a Avenida. Mas a rotunda, caótica no 1º dia, respondeu muito bem daí em diante. Para quem circulava a pé ou de bicicleta experimentou uma mudança radical: é possivel hoje ir-se à estátua em segurança, com passadeiras semaforizadas e as bicicletas tiveram direito a uma faixa ciclável. Há áreas enormes, como se vê na foto abaixo, de ex-espaço viário à espera de ser reconvertido em espaço pedonal. ou zonas verdes. Uma rotunda a tender para uma praça.
As alterações foram duramente criticadas pelo ACP. O mesmo ACP que foi contra a "supressão de faixas de rodagem para áreas pedonais" no Plano da Baixa há cerca de 3 anos atrás.
O ACP é assim: em nome do seu serviço de seguro de assistência em viagem e do serviço de "desempanagem", a que milhares de pessoas aderem (eu já fui um deles mas vi-me obrigado a sair, por não me revêr nesta postura de ataque ao peão e ao ciclista), assume uma posição radical de defesa de mais espaço viário em qualquer circunstância, em desfavor dos outros utilizadores do espaço público.
Note-se que na Baixa o tráfego na Rua do Ouro baixou 49% com o Plano da Baixa e as reduções nas restantes ruas são aproximadamente da mesma ordem de grandeza. Basta ir à Baixa para perceber a quantidade de estabelecimentos que se renova. O Chiado é já a área comercial mais cara do País.
Hoje, o ACP aplaude o chamado "recuo" da CML na Avenida da Liberdade.
Mas a vida tem destas coisas: o falado "recuo" hoje assim baptizado mais não é do que ajustes a coisas que, manifestamente, não satisfaziam. Os ciclistas estavam descontentes e o confestionamento no sentido ascendente deveria ser resolvido.
Mas terá razão o ACP para lançar foguetes, quando o tráfego nas laterais nunca mais será de atravessamento total, quando se perdeu uma faixa de rodagem em definitivo no sentido descendentes ou quando o Marquês de Pombal ficará para sempre mais próximo de ser uma Praça?
Julgo que o ACP quis marcar pontos neste período de Pré-Campanha, onde assumirá novamente as suas posições a que nos habituou.
No entanto, aplaudindo o resultado a que se chegou, o ACP está na verdade a perder a sua batalha pela motorização da Avenida. A Avenida da Liberdade estará em definitivo com menos tráfego e com mais espaço pedonal. São factos. E aos poucos Lisboa tem conseguido, em vários pontos, prosseguir esta estratégia. Se o ACP acha que mesmo assim conseguiu os seus objectivos, melhor ainda! Estamos todos satisfeitos, o que é excelente.
Conheço gente que preferia a Avenida como estava e alguns que defenderiam cortes mais profundos de tráfego. A vida são compromissos. Aliás, a vida são, sobretudo, compromissos.
Quanto à nossa imprensa, valia a pena entrevistar, também, a opinião dos peões.
Não se avaliam projectos desta dimensão só ouvindo automobilistas.
Porque os peões até somos... todos! Não é verdade?
NOTA: Não participei profissionalmente, nem directa nem indirectamente, em nenhuma das alterações previstas para a Avenida da Liberdade ou para o Marquês de Pombal.
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