domingo, 11 de janeiro de 2015

Cowspiracy, menos carne ou nenhuma carne?


Estive um tempo demasiado extenso sem escrever no blogue. Este post marca o retorno à rotina habitual antes da interrupção.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -





















(Foto: 2012, Serra da Freita. Raça Arouquesa, criação extensiva sustentável em equilibrio).
O documentário "Cowspiracy", que ainda não tive oportunidade de ver, parece pretender assumir-se como uma espécie de "Uma Verdade Inconveniente", parte II. Mas assim como de "Uma Verdade Inconveniente" andámos mais de 10 anos focados no CO2, e parte da sociedade conseguiu até defender o mesmo sistema (desde que "sem" CO2), convém perceber se o "Cowspiracy" pretende mostrar ao mundo que a solução é uma vida com menos carne ou se pretende investir num mundo sem carne.


Recuso-me a discutir argumentos "especistas" na escolha alimentar. Há países e pessoas que comem por razões culturais umas coisas, outros outras coisas. Uns comem cães, gatos e cobras, outros baleias, outros insectos, outros ratos, outros bacalhaus, polvos, vacas e porcos. É aceitável que não se comam determinados alimentos por razões culturais ou éticas, por serem contra os nossos valores, crenças ou filosofias de vida, incluindo a saúde. Mas não se deve basear a argumentação científica nesse ponto. Neste caso, é evidente para todos que não há Planeta que resista a esta "intensidade carnívora". 
Logo, a solução a aplicar ao Mundo terá que ser uma redução drástica do consumo global de produtos animais. Mas, defender um mundo sem carne será uma utopia tão pouco concretizável como a manutenção do actual status de insustentabilidade. 
De facto, há que distinguir entre toda a pecuária intensiva, que depreda os recursos para rações e transporte, de todo um conjunto de mais valias proporcionadas pelos animais e pelos serviços agro-pastoricios de que os animais fazem parte, e que sem eles teremos a evolução para ecossistemas desregulados, no controlo dos matos e dos incêndios, na renovação da biodiversidade, na renovação da fertilidade dos solos. (ver aqui exemplo das pastagens biodiversas em Portugal)
A "carne", produto como o conhecemos, terá que vir a ser um produto muito mais raro, de base local, necessariamente muito mais caro e consumido por isso mesmo como uma coisa de requinte, em muito menores quantidades. A "carne" extensiva deverá ser promovida e gerida com fins ambientais e de sustentabilidade, permitindo a fixação de populações e um conjunto de serviços ambientais insubstituíveis. 
Quem quiser ser vegan que seja, mas se imaginarem consensos e metas atingíveis com essa bandeira não vão ter resultados. Seria um novo processo motivacional tipo "CO2", que na verdade não chegou para motivar no bom caminho os Países e as Sociedades a mudarem  realmente os seus processos. Sejam inteligentes a convencer urgentemente o Mundo a viver com muito menos carne, mesmo que por razões culturais prefiram não consumir nenhuma.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários estão sujeitos a moderação. Serão publicados assim que possível. Obrigado

 
Site Meter