sábado, 21 de maio de 2011

"Acha que laranjas são fruta da época?"

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"Acha que laranjas são fruta da época?"
Este slogan não é meu. É do MPT - Partido da Terra e serviu de cartaz às eleições legislativas de 2002, após demissão do Governo do PS de António Guterres.
Na altura, este cartaz fazia parte de uma trilogia que englobava o slogan "A esperança não é laranja nem rosa. É verde!" e um terceiro "Aceita rosas como pedido de desculpas?"

Estive no MPT entre 1998 e 2005, com muito orgulho, a lutar por um pequeno partido ecologista, independente, sem recursos, que procurava dar a cara pelas ideias da Ecologia Política num País de esquemas, demasiadas promiscuidades em torno do urbanismo e outros interesses, num País de muitos automóveis, muitas casas, muito alcatrão, e muito pouca visão.
O MPT, em 2002, aparecia envolvido numa difícil batalha eleitoral, onde a demissão de um Governo PS e a então mais que provável eleição de um Governo PSD levantava a bandeira de poder marcar o espaço ecologista em Portugal, deixando claro que havia um afastamento, desde o centro esquerda, até ao PS e, claro, ao PSD.
Nessa altura, a colagem destes cartazes fazia-se em grupos, deixando contar a história pela leitura dos três. Simples e claro!

Mas, eis que em 2011, depois de uma demissão outra vez de um Governo do PS, eis que o MPT retira do "baú" os cartazes de 2002, antes diria um dos cartazes de 2002, apenas o "Aceita rosas como pedido de desculpas?", colando-o em simultâneo com um novo cartaz que, se a memória não me trai, não constava da altura.
Faço a leitura da questão com uma pergunta: para além da mensagem da boa gestão e da racionalização dos recursos, da "reciclagem" dos cartazes a bem do Ambiente, onde param os outros 2 cartazes que faziam parte dessa trilogia?
Vejamos, agora as laranjas já são fruta da época e a esperança já pode ser...laranja?
Ou o MPT deslocou-se para a direita, de forma explícita, ficando nos antípodas de "os verdes", do outro lado do hemiciclo?
Estará hoje este MPT permanentemente a trabalhar na expectativa de poder ser convidado pela direita, para entrar em municípios com deputados ou assessorias, ou no Parlamento, fazendo por isso campanha atrás de campanha, numa táctica que diria cuidadosa, num ataque sempre à esquerda (que por vezes até impressiona pela "raiva" desmedida, e ao mesmo tempo num silêncio brutal quanto ao que de errado faz a direita...
Ou, terceira hipótese, menos provável (digo eu), de os outros 2 cartazes não estarem no "baú", que não sobrou nenhum para mostrar...só o das "rosas como pedido de desculpa"...

Não, o problema (se o quisermos chamar assim), começa em 2005, e eu fiz parte dele infelizmente, antes das eleições para o Parlamento em 2005, com aquela decisão...depois do fiasco da experiência, o resultado está à vista:
Não há na política portuguesa uma força política ecologista descomprometida, que faça uma 3ª via, que marque um rumo para sair da crise, para um mundo melhor, mais ecológico, mais humano, mais solidário. Há muitas ideias, muitos paradigmas que parecem mudar, muitas questões que agora aparecem por via das circunstâncias, mas não há (ponto final)
E esta colagem de cartazes fez-me lembrar tudo isso!

Nota 1: Considero Gonçalo Ribeiro Telles um visionário e sigo grande parte das suas ideias para o País, que considero de aplicação urgente. Sendo ele Presidente Honorário do MPT, é com grande satisfação que constato poder ter estado sempre com ele no apoio, por três vezes consecutivas, à eleição de José Sá Fernandes para a Câmara de Lisboa, cujo Gabinete colaboro e onde fica provado que é possível concretizar muitas das medidas ecológicas que se defendiam. Primeiro integrado no BE e depois do PS, o importante é saber manter-se inalteradas as propostas e as medidas, independentemente onde se esteja. Foi isso que quis ajudar a fazer em 2005 para o Parlamento com aquela decisão, mas são as actas das minhas propostas e votações que, julgo, assim o provam na AML de Lisboa 2005-2007 e em 2009-2010.
Nota 2: Saí do MPT porque assim o quis, quando entendi e ninguém a isso me pressionou. Não tenho ressentimentos e deixei amigos lá, ainda hoje. Deixei de me rever no partido, sobretudo no seu futuro e em algumas das pessoas que o conduziam politicamente. Sei que sou de esquerda no essencial, mas sempre achei que seria uma mais-valia para a política poder haver um partido que conjugasse o melhor de cada "lado", sobretudo tendo como foco a Ecologia Política como forma de aplicação da doutrina.
Nota 3: Nada tenho contra o PSD, e considero até que na área ambiental e a nível de Governo nada deve ao PS, deixando um curriculo de medidas válidas com pessoas como Carlos Pimenta, Macário Correia, Amilcar Theias ou Jorge Moreira da Silva, não tendo pactuado com a Co-Incineração, tendo investido sempre mais na Conservação da Natureza e no ICN (veja-se a qualidade de gestão de algumas áreas protegidas, como a Rua Formosa, em governos do PSD e do PS... ), bem como em algumas medidas válidas e algumas muito difíceis nas áreas do Ordenamento do Território, Urbanismo, Transportes e Energia.
Nota 4: Considero hoje que o liberalismo, algum muito feroz, conduziu o País para a crise e temo fortemente que o seja esse mesmo liberalismo a tirar-nos da crise. Até porque está por provar que o liberalismo e a Ecologia Humanista sejam compatíveis... Exemplo disso são as teorias da energia nuclear e da energia dita "barata" ou o modelo cada vez mais crítico que o PSD demonstra no seu Programa pelo Planeamento e pela existência de um Ordenamento do Território como forma de racionalizar a economia. Daí que me preocupe que nada se diga quanto à esperança afinal poder ser laranja...

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