HPS: Cristina, não torça os argumentos dos outros. Os touros existem enquanto produto do homem e a razão pela qual o homem os produz é usá-los em touradas. Em consequência, não havendo touradas provavelmente não haverá touros. É isso um drama? Não, é uma perda de diversidade biológica que por si só não é dramática. Tem vantagens ambientais (não é para os touros, é para os outros) acabar com os touros? Não, tem prejuízos porque diminui a sustentabilidade económica de um sistema de elevada biodiversidade. É isso inaceitável? Não, se as pessoas assim quiserem pois que seja, mas não vale a pena argumentar com questões ambientais porque as questões ambientais vão no sentido de favorecer as touradas e não no sentido de as desaconselhar. Mas como as questões ambientais não são tudo na vida, pode optar-se por acabar com as touradas por outras razões, igualmente legítimas. O que é ilegítimo é querer convencer as pessoas com argumentos falsos, como sejam os de que é por razões ambientais que se é contra as touradas.
"e os caçadores os melhores amigos do ambiente, os quais devemos acarinhar para nunca desistirem dessa nobre actividade."
HPS: Tem a certeza que me viu dizer isso? Onde?
"Eu devia ter desconfiado quando entrei num blog supostamente de cariz ambiental para comentar um artigo que ataca os defensores do direito à vida, chamando-lhes "gente perigosa", animalistas, fanáticos, dogmáticos, extremistas, fundamentalistas."
HPS: Por estranho que possa parecer à sua cabecinha cheia de certezas, no blog escrevem pessoas que têm visões totalmente opostas sobre esse assunto. Portanto critique o Gonçalo, que é quem assina o post, pelas suas posições, mas não vale a pena generalizar para o blog porque o Blog não tem posição definida nem agenda própria: tem pessoas que escrevem sobre ambiente e áreas conexas, com perspectivas muitas vezes divergentes. No blog existem opiniões assinadas, não existem argumentários de suporte a agendas.
"E nem sequer foi por alguém ter dito que um verdadeiro ambientalista não pode comer carne se quiser ser coerente (os dados sobre o impacto ambiental da indústria da carne que é, de longe a maior responsável pelas emissões de carbono e consumidora de recursos naturais são da ONU, não fui eu que inventei);"
HPS: O impacto ambiental do consumo de carne depende da forma como é produzida. A criação extensiva e a caça são das menos impactantes formas de obtenção de carne. Em qualquer caso verá em vários posts sobre isso uma notável unanimidade de opiniões sobre a necessidade de reduzir o consumo de carne (e peixe, já agora).
"o que até seria compreensível para ambientalistas de mesa de café, que se auto-congratulam por terem substituído as lâmpadas incandescentes em casa e vão ao fim de semana para o campo lambuzarem-se com sanduíches de courato."
HPS: Se for de porcos de montanhiera criados em liberdade (relativa, naturalmente) ou de javali criados em liberdade (efectiva) qual é a questão ambiental que lhe levantam as sanduíches de courato? É claro, nisso penso que estamos de acordo, se o courato for usado numa feijoada, numa favada ou num rancho é preferível porque é muito menor o consumo de carne.
"Não, foi por causa das touradas."
HPS: Esta enganada. Foi porque a Manuela Soares defendeu que não há nada a discutir sobre touradas porque os direitos não se discutem e o que era pouco sensato perguntar às pessoas o que acham proque são umas ignorantes. Esta é a questão central, não as touradas.
"É que alguns ambientalistas sentem-se muito à frente por o ambiente estar na moda, mas de facto o seu meio é o das touradas, da caça, da pesca, enfim, do desrespeito absoluto por outras formas de vida."
HPS: Não vou a touradas, não caço, não pesco. E daí?
"Acho bem que continuem fechados num blog a afagarem os egos uns dos outros e a sentirem-se superiores, só porque sim."
HPS: Se há alguém que abusa do discurso da superioridade moral são os activistas dos direitos dos animais, como é bem visível neste seu último mail, e mais ainda no mail da Manuela Soares que deu origem a esta discussão (que era sobre a legitimidade de minorias imporem os seus pontos de vista com base na sua suposta superioridade moral, não era sobr touradas).
"Ah, é verdade, e a serem muuuuito tolerantes. Mas só para alguns, claro, que a tolerância é um bem precisoso que não se pode desperdiçar com quem não o aprecia. Tolerantes para aqueles que não os confrontam com as suas incongruências nem os tiram da sua zona de conforto e os fazem pensar."
HPS: Está a ver como eu sou tolerante. Nem vou explicar-lhe como esta sua frase final é de uma arrogância que só tem explicação na sua convicção profunda da superioridade moral dos seus valores. Os mesmos que levam Peter Singer a defender a eutanásia (embora se tenha refugiado na tutela partilhada com a irmã para não ter posição definitiva em relação à mãe com Alzheimer) ou a morte das crianças nascidas com o que ele considera pouca capacidade para ter uma vida com qualidade, substituindo-as os pais por outras mais saudáveis. E apesar de ser este o seu sistema de valores eu abstenho-me de o qualificar moralmente. Porque acho que tem o direito de ter esse sistema de valores desde que não mo queira impôr a mim."
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Duarte d´Araújo Mata
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