quinta-feira, 16 de maio de 2013

O que está afinal a fazer as pessoas andarem mais de bicicleta em Lisboa?

Que o número de ciclistas aumenta de forma visível em Lisboa, isso não há grandes dúvidas. E que aumenta de forma mais considerável do que em concelhos limítrofes, também me parece óbvio.
A cidade de Lisboa, a mesma onde a bicicleta era "impossível" transformou-se afinal numa cidade onde é hoje impossível sim não se ver diariamente ciclistas que usam a bicicleta para o trabalho.
No meu "facebook" e não só discuto abertamernte estas questões com muita gente.
Da minha parte considero que se trata de um conjunto variado de razões, mas que o papel que o Município teve com a introdução de uma rede de ciclovias de quase 50km, a construção de 5 pontes ciclopedonais para ultrapassar obstáculos físicos penalizantes, a colocação de dezenas de pontos de estacionamento de bicicletas e com acções diversas de promoção e sensibilização tem uma importância decisiva para que as pessoas saiam para a rua todos os dias.
Numa cidade altamente motorizada, onde a redução de tráfego e de espaço automóvel que se tem conseguido em vários locais (Baixa, Avenida da Liberdade, Marquês de Pombal, Avenida Duque d´Ávila, etc), numa atitude sem precedentes na Cidade, em caso algum retira o carácter altamente motorizado que está instalado há décadas, é óbvio que a criação de percursos cicláveis teve e continua a ter um papel fundamental.
Fico portanto preocupado com comentários de pessoas com responsabilidade no acompanhamento destas matérias expressem a convicção de que terá sido apenas a crise e o papel das ONGs ligadas à bicicleta a conseguir estes resultados, ignorando por completo tudo o resto. 
Preocupado porque denota uma enorme dificuldade em aceitar que não há importação de receitas fixas para atingir uma cidade ciclável. 
Preocupado porque outras cidades em situações semelhantes, como Sevilha, estão hoje cotados internacionalmente pelos seus excelentes resultados, após actuações em boa parte semelhantes. 
Preocupado porque esta análise denota que não se compara sequer o que se passa, por exemplo na Duque d´Ávila com as Avenidas que lhe estão adjacentes em matéria de fluxo ciclável, o que considero grave pois demonstra uma rigidez na apreciação da realidade que em nada abona a favor de soluções de consenso nestas matérias.
Por fim, o seguinte: entre a teoria e a concretização há uma estratégia, um caminho a percorrer e em boa parte as estratégias assumem um carácter de tomadas de decisão política. E esse caminho que está a ser percorrido deve ser ajustado passo a passo, com todos os envolvidos.
Não me parece que o balanço do que tem sido feito em matéria de bicicletas seja negativo, antes pelo contrário, mas se o trabalho do Município é visto simplificada e rigidamente desta forma por alguns actores relevantes do chamado "movimento ciclista", teremos um trabalho bem mais complexo pela frente do que eu alguma vez pensei, pelo menos no que a este aspecto de avaliação e diagnóstico diz respeito. 
Isto porque o trabalho do Município não é satisfazer nenhum "lobby" ciclista em particular, mas sim a população em geral (em geral avessa à ideia da bicicleta de uso quotidiano), cativando-a independentemente da  sua classe etária, classe social ou actuais hábitos, de que a bicicleta é um meio de transporte válido e útil para elas e para uma melhor cidade, sozinha ou em articulação com o transporte público.

12 comentários:

  1. Duarte, tive que apagar grande parte do que queria escrever, porque respirei fundo e por uma questao de respeito.
    Ficou so' isto:

    Achar que os "activistas" muitos deles especialistas na materia, estao sempre enganados e' muito presuncoso nao achas. As ciclovias atuais so' servem para mostrar obra. Obra ma' e cara.

    Gostas de referir cidades. Porque nao referes Bruxelas, que tem um alto nivel de motorizacao e onde e' 40x mais seguro andar de bicicleta do que em Lisboa. Porque nao vais ao meu FB comentar o album de "Bruxelas para ciclistas" que la' meti.
    Comeca a ser dificil lidar com esta tua maneira de ver as coisas (sim, podes dizer o mesmo sobre mim, mas eu nao estou num cargo publico a gerir dinheiros publicos).

    Cumprimentos,

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    1. Olá César.

      Sou sensível a esta discussão e não me parece que o Duarte esteja a dizer o que escreves.

      Quais os estudos em que te baseias para dizer que Bruxelas é 40x mais segura que Lisboa para andar de bicicleta?

      De resto, não percebi o teu argumento. Parece uma birra por o Duarte não ir visitar o teu facebook.



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  2. Caro César,
    Fiz o "print screen" deste comentário que desconsidera totalmente o trabalho feito pelo município em matéria de bicicletas e até apaguei o nome de quem o proferiu para manter a conversa num tom respeitoso.
    Eu não acho sempre que os "activistas" são isto ou aquilo. Como sabes até trabalhamos com muitos activistas da causa e há muito tempo e muito bem... Não exclusivos em matéria de defesa da bicicleta nem há uns melhores que outros, ou há?
    O que há é quem ache que no Município se faz sempre tudo mal e também me começa a ser difícil com essa maneira de lidar com este assunto!
    Cumprimentos

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  3. Já por várias vezes tive oportunidade de admitir, pessoal ou virtualmente, que as ciclovias de Lisboa, por muito más que sejam, têm algum mérito por terem posto mais pessoas a pedalar. Sobretudo, se nos referirmos a quem pedala nos seus momentos de lazer.

    Mas tenho de discordar na importância que estas tiveram a pôr as pessoas a pedalar para o trabalho ou para a escola. A começar pelo facto da rede de ciclovias de Lisboa ainda ser, em grande parte, uma manta de retalhos em que as ciclovias ligam lado nenhum a nenhum lado. E, a acabar que boa parte delas são pouco confortáveis, inconvenientes e, até, perigosas.

    Numa cidade altamente motorizada, as soluções adoptadas pela CML têm sido de compromisso e submissão. Procura-se frequentemente a segregação, em vez da integração e a despromoção da bicicleta como um veículo de segunda, imiscuindo as ciclovias sempre, ou quase sempre, com o ambiente pedonal.

    Preocupa-me a pretensão da CML em afirmar-se cidade amiga da bicicleta, e continue a promover obras como a da recente ciclovia do Marquês de Pombal.

    Preocupa-me que, apesar de tantos exemplos de melhores práticas, a CML teime em praticar os maus exemplos.

    Preocupa-me que a CML mencione análises, mas não apresente qualquer estudo que confirme os seus palpites.

    Finalmente, o trabalho da CML não é totalmente negativo. Mas, frequentemente, os investimentos têm sido orientados para obras de elevada visibilidade, para a inauguração festiva e propagandista. Entretanto, a cidade continua com muitos "pontos negros" por resolver. Estes sim, verdadeiros obstáculos para muitos ciclistas.

    A ausência de uma estratégia coesa e objectiva, tem provocado o desperdício de vastíssimos recursos, com reduzidos efeitos na melhoria da mobilidade urbana em bicicleta.

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  4. "Bicicleta", há exemplos que provam a importância da ciclovia instalada, como a Escola Secundária Virgílio Ferreira em Carnide e o seu parque de estacionamento com muitas dezenas de bicicletas.A Duque d´Ávila é outro exemplo.
    Mas sim, nem tudo foi feito da melhor forma, muitas vezes foi da forma possivel. No global acho que tem valido a pena e não acho que tenha havido desperdício de recursos. Cumps

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  5. Se considerado apenas o troço da Duque de Ávila, até se pode dizer que, apesar do erro que é a ciclovia se encontrar ao nível do passeio, foi uma obra moderadamente bem sucedida.
    No entanto, mostra bem a manta de retalhos que é a rede de ciclovias em Lisboa. Do lado nascente, simplesmente não tem continuação. Do lado poente, temos de adivinhar que existe uma continuação mais à frente, seja para seguir para a Praça de Espanha, seja para subir para Campolide. E, quando encontramos essas ligações, deparamo-nos com disparates como aquele passeio pintado de encarnado, pela Marquês da Fronteira acima, a que a CML gosta de chamar de ciclovia.
    Antes disso, fazem-se 100 metros de rua larguíssima, cheia de carris de eléctrico desactivados há anos, por entre os pedaços de alcatrão que separam os buracos.
    Por isso, a afirmação correcta deverá ser: nem tudo foi feito da pior forma, e o possível depende do que se está disposto a sacrificar. No global, as ciclovias pouco fazem pela efectiva mobilidade urbana em bicicleta. Claro que cada um tem direito à sua opinião e, quando se tem interesse directo no que se defende, essa opinião dificilmente é objectiva.

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  6. Cara "bicicleta". Não sei que é exactamente, mas essa frase final é de fraca argumentação. Dá ideia que perante a falta de bons argumentos, partimos para a insinuação, é assim?
    Nesse caso, se acha que eu defendo aqui a minha "dama" e não tenho objectividade na discussão, poupe-se a esforços e não venha cá comentar.
    Insisto: a estratégia de bicicletas em Lisboa não foi a pensar em si, cara "bicicleta". Foi a pensar no cidadão anónimo que ao contrário de si e da meia dúzia que ciclistas "profissionais", nunca na vida andará de bicicleta para o trabalho se não houver condições para isso. E as condições que imagino que defende são as mesmas que eu, o caminho para lá chegar é que é diferente.
    O que fala da Av. Duque d´Ávila é de quem curioso nas matérias técnicas de desenho urbano, senão percebia logo as razões porque há as interrupções que fala.
    Mas como diriam concerteza as nossas amigas de um conhecido blogue, na Avenida Duque d´Ávila dá-se os parabéns ao...metropolitano (empreeiteiro da obra) e não à CML.

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  7. Duarte,

    Não é uma insinuação, é mesmo uma afirmação. Porque acho que artigos como o que escreves têm um tom propagandista e carecem do devido distanciamento para serem objectivos. Por esse motivo, não deixei de comentar.

    É verdade que eu não preciso do trabalho da CML para circular de bicicleta em Lisboa. Sorte a minha, porque se assim não fosse, ainda tinha o rabo sentado no sofá.

    E, também é verdade que sou apenas um curioso, e não um profissional. Mas, precisamente por isso, procuro aprender e não pretendo tudo saber. É que foram os profissionais que conceberam aberrações recentes, como aquelas ciclocoisas na Frei Miguel Contreiras, ou na Marquês de Fronteira, para citar apenas 2 exemplos.

    É de lamentar que, para andar de bicicleta, em muitos locais, o cidadão anónimo não mereça mais por parte da CML do que uns míseros passeios pintados de encarnado. Por ser inexperiente, e nem sequer um curioso, esse cidadão utilizará essas ciclocoisas, conformado com o que a "estratégia" da CML. Até ao dia em que se apercebe que perde imenso tempo porque tem de parar por tudo e por nada, ou que quase atropelou um peão. E, o peão, esse ainda é mais menosprezado porque, de repente, além de ter os carros a colocarem-no em perigo, agora também tem as bicicletas.

    Como dizes, até acredito que ambos defendemos temos objectivos muito convergentes, apenas divergimos frequentemente na melhor forma de os atingir. E se, por vezes, os cidadãos pecam por não felicitar a CML pelo seu bom trabalho, este cidadão lamenta que a CML não reconheça as suas falhas, tente disfarçá-las e insista em repeti-las.

    abraço

    Ricardo Ferreira

    PS: apenas por comodismo não me identifiquei antes

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  8. Este pequeno grupo ruidoso e gregário devia agradecer-te pelo tempo que te faz perder com eles. Olhando para a cidade nos últimos 5 anos é tão fácil ver a relação entre as infraestruturas e a sua consequência.

    O perigo destes pequenos mas ruidosíssimos grupos proponentes do chamado "vehicular cycling" está documentado . Vide por exemplo este artigo:

    http://crapwalthamforest.blogspot.pt/2011/01/what-wont-bring-about-mass-cycling-5.html

    Para a edilidade, há que aprender com os exemplos lá fora:

    1 a infraestrutura é o mais importante.
    2 qualquer infraestrutura é melhor do que nenhuma
    3 é importante ignorar as falhadas teorias de espaço partilhado. Cada vez que leres algo como " cyclists don’t want to be treated differently to other vehicles" ou "eu não preciso do trabalho da CML para circular de bicicleta em Lisboa." , ignora-o completamente - são palavras de pseudo-ciencia falhada, e não a opinião da população

    "The basic principle of the Dutch cycling renaissance is separation of cyclists from motor vehicles and the privileging of cycling routes over motor vehicles in town centres and residential areas"

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    1. João Branco:
      Eu sei que tentam colar-me a um "amador" nestas áreas,não porque tenha pouca experiência a trabalhar nestas matérias, mas porque tenho poucos "papers" publicados...
      mas mesmo assim eu reconheço que há situações com erros, e são várias, a não repetir e nalguns casos a corrigir. Há casos retratados em que os erros são óbvios mas em alguns casos até resultam de alterações em obra e outras decisões internas cujas obrigações me obrigam a não detalhar...
      Não me parece é que de facto seja possivel reduzir a zero o trabalho de criação de infra-estruturas como grande motor de promoção do uso em Lisboa, como se vê em Benfica-telheiras ou na Duque d´Ávila, entre outros, mesmo comparando com as ruas imediatamente paralelas.
      Mal estariamos se não ouvissemos toda a gente, mas de facto assiste-nos o direito de apreender o que ouvimos e tomar as decisões em conformidade, e pelas quais somos responsáveis...

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  9. Atenção Caro Duarte. Poderá estar a dialogar não com activistas mas com académicos e lobbie de negócio de bicicletas de luxo, com natural interesse de carreira ou até monetário em determinadas opções que poderão não ser as melhores para a população.

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    1. Caro anónimo, tenho ideia que é a primeira vez que publico um comentário anónimo. Não me parece boa política publicar comentários anónimos. O "tom" do comentário é vago e por isso torna-se inconsequente discutir sobre ele. Foi uma excepção.

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