quinta-feira, 28 de abril de 2011

A vida que temos e os prados "carbónicos"

Se aceitarmos a abstracção que constitui simplificar todos os processos de dinâmicas energéticas ao CO2, sabendo distinguir que reduzir CO2 num processo normalmente é também reduzir a ineficiência energética, mas que por vezes essa questão não é tão linear do ponto de vista da eficiência (ex: P: o que capta mais CO2, um eucaliptal ou um sobreiral? R: o eucaliptal. P: Mas e em termos de dinâmica global? R: ...), poderemos ver com bons olhos a maioria das acções que visam a redução carbónica.

Mas, por de trás do CO2 está, tantas vezes, o discurso das energias limpas, ou seja, energias que não emitam carbono, incluindo o "limpo" nuclear. Daí que o nuclear subverta, pela sua aparente "limpeza carbónica", o processo energético global, já que permite, sem emissões "na fonte" manter os processos energéticos ineficientes.

Já sem falar dos perigos do nuclear, por estes dias sobejamente conhecidos pelas piores razões, o caminho a seguir terá que ser eficiência energética e energias renováveis, mas tendo em conta que muito provavelmente o balanço (energias renováveis - gastos energéticos) não permite continuar a ter a vida que temos.

Perguntam-me: Para continuar a vida "que temos", prefere centrais nucleares ou centrais a carvão? Centrais a Carvão, certamente, mas começo a pensar que é quase inevitável não começarmos a questionar o estilo de vida que levamos, que conduz a uma reflexão mais vasta que passa, por exemplo, por analisar os modos como é contabilizada a nossa produção interna (PIB), ou seja, mais produção melhor desempenho.

Mas, o descrescimento sustentável teria muitas vantagens em ser colocado em cima da mesa, implicando até começar a analisar e avaliar o desempenho produtivo através de outras variáveis. Fazer uma estrada ou uma casa, por mais ineficiente que cada uma dessas estruturas represente, significam bem mais para o "crescimento / facturação" nacional do que, por exemplo, semear prados que captam muito CO2, não pelo CO2 em si mesmo, mas porque se trata apenas de acelerar o processo normal do ciclo carbónico de fazer crescer matéria orgânica, que no caso concreto acaba com pastos naturais para gados autóctones, a carne do futuro, não estabulada, saudável e que deve ser consumida em menores quantidades e menos vezes por semana.

Eis pois um processo em que a ideia do CO2 vem a calhar.

IMAGEM E PROJECTO EXTENSITY AQUI

ARTIGO AQUI

 

"Pastagens ajudam clima
27.04.2011
Ana Fernandes

Por estes dias, extensas áreas do Alentejo, Ribatejo e Beira Interior tingem-se de roxo. Mas para além das razões estéticas, estes campos prestam um enorme serviço ao país: retêm carbono da atmosfera, contribuindo para que Portugal cumpra o compromisso de Quioto. Hoje já abrangem o equivalente a três vezes a cidade de Lisboa e daqui a dois anos prometem ser o dobro.

O projecto Terra Prima – Fundo Português de Carbono nasceu em 2009 e assenta num novo conceito de pastagens, desenvolvido por David Crespo, que criou um sistema que mistura 20 espécies de sementes diferentes, que se complementam e maximizam. Com estas pastagens, os agricultores ganham em diversas frentes – além de serem altamente nutritivas para os animais, sequestram carbono, aumentam a matéria orgânica no solo evitando-se assim a desertificação que avança em várias regiões do país e ainda são uma arma contra os incêndios pois interrompem o contínuo dos matos e arbustos.

Mas é sobretudo o seu valor na luta contra as alterações climáticas que se revelou compensador. O seu êxito – consegue reter cinco toneladas de dióxido de carbono por hectare por ano – levou a que o projecto fosse financiado pelo Fundo Português de Carbono, que apoia investimentos que permitam reduzir as emissões. Os agricultores são assim recompensados pelo contributo que dão para que o país cumpra Quioto, recebendo 150 euros por hectare.

O projecto da empresa Terra Prima, que resultou de um spin-off do Instituto Superior Técnico, conta já com 500 agricultores e 27 mil hectares de implementação, prevendo-se que atinja o dobro da área nos próximos dois anos. Na próxima sexta-feira é apresentado oficialmente em Portalegre.

O Fundo Português de Carbono é um dos instrumentos que contribui para o esforço português para cumprir as metas de Quioto. Além deste, que financia projectos nacionais e internacionais que permitam reduzir as emissões nacionais, há ainda o Programa Nacional para as Alterações Climáticas - que estabelece as políticas sectoriais para reduzir as emissões - e o Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão - que estabelece o limite de emissões a que cada indústria tem de obedecer. "


terça-feira, 19 de abril de 2011

Era uma vez uma Avenida que perdeu 2 faixas de rodagem


Once upon a time...


Era uma vez uma Avenida que, até 2009, tinha 4 faixas de rodagem, muito estacionamento e muito, mas muito pouco espaço pedonal. (foto aqui). A Avenida, de tão larga que era, permitia velocidades de via rápida e os peões atravessam enormes passadeiras que, de tão largas tão largas que eram, mais pareciam pontes de aventura sobre rios caudalosos...





Então, em 2009 a Câmara Municipal local achou que talvez fosse demasiado espaço para tanto carro e tão pouco para peões, árvores e ciclistas e decidiu intervir, reduzindo faixas de rodagem, plantando árvores, fazendo os autocarros estacionar na via e requalificando e disciplinando o estacionamento.



Mas, eis que o problema do estacionamento, muito apregoado em falta no local, e a fluidez de tráfego, esse conceito tão decisivo no nosso País de rotunda e que tanto alcatrão move (o dia-a-dia de tantos e tantos cidadãos que precisavam daquela pequena via rápida como alternativa à 2ª circular), eis que preocupou tanta e tanta gente que, logo se insurgiu contra a obra e pôs mesmo "mãos-à-obra", que em ano eleitoral não havia tempo a perder...


Havia até uns que, até eram a favor de tudo o que estava a ser feito, mas mesmo esses eram a favor de tudo o que era feito, desabafavam que eram contra a forma como estava a ser feito...


Eis que a obra se fez, com algumas peripécias e entrevistas de quem programou o caos e a desordem, agora que os carros iriam fazer filas intermináveis, de horas e horas...


Juntamente com a obra, entrou em funcionamento o sistema de tarifação do estacionamento à superfície, incluindo a criação de zonas de estacionamento só para residentes...




E, eis que, a fluidez do tráfego se resolveu pelas vias rápidas existentes em toda a envolvente!

E o estacionamento em falta, afinal, se tratava de quem, querendo ir ao Centro Comercial ou ao futebol, achava que seria mais simples e mais barato parquear por aqui...


Como por magia, os moradores estacionam dentro do bairro e na avenida os lugares se encontram afinal...vazios!?


Mas, surpresa! Mesmo ao lado destes lugares vazios, onde em tempos houve um campo de jogos e as crianças brincavam e jogavam à bola, a Junta de Freguesia proporciona agora um Parque de Estacionamento privativo (não tarifado!...), que faz lembrar o que foram muitas e muitas Praças da nossa Cidade, algumas emblemáticas, como a Praça do Comércio!

E de repente, a Avenida de 4 faixas, agora só de 2 faixas, flui normalmente, há estacionamento disponível para quem precise, as árvores ainda pequenas crescem e a ciclovia lá vai, aos poucos, servindo curiosos e novos utilizadores, ligando já Benfica até ao Parque das Nações.

E como acabará esta História da Avenida do Colégio Militar?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Guerra ao automóvel!"

Naturalmente, assino por baixo e regozijo-me por haver cada vez mais gente que se centra no essencial: racionalizar, poupar, fazer as escolhas certas.

__________________________________

Guerra ao automóvel!

por JORGE FIEL07 Abril 2011

ARTIGO AQUI

IMAGEM AQUI

Consta por aí que o clima de ciúme e rivalidade entre dois conhecidos directores de um não menos conhecido grupo português (que, nem que me torturem, direi que é de comunicação social) tem a sua singela origem no facto de um não se conformar com o facto de o outro ter um carro melhor. Sobre este episódio, faço meu o dizer dos italianos: si non è vero è ben trovato, pois a vaidade do português médio expressa-se em todo o seu esplendor no aparato do carro que conduz.

Impermeáveis à crise, em 2010, as vendas de automóveis de luxo dispararam no nosso país, com marcas como a Jaguar e a Porsche a registarem crescimentos recordes na ordem de 50%!

O facto de as contas da Carris estarem em pior estado do que o chapéu de um trolha não inibiu a administração de renovar a sua frota com BMW, Mercedes e Audi, de 45 mil euros cada.

Eu até compreendo o raciocínio. Não há comparação possível entre os largos milhares de pessoas que podem ver a marca do nosso carro e as escassas dezenas de amigos que convidamos para nossa casa e podem ler a assinatura dos quadros que decoram uma sala imensa apetrechada com um sistema state of heart de home entertainement.

O automóvel é tão sagrado para nós como a vaca para os indianos. De acordo com o Observatório Cetelem (grupo BNP/Paribas), 71% dos portugueses não imaginam como seria a vida sem automóvel - pior que nós, na Europa, só mesmo os belgas (87%).

Somos o país com maior percentagem de jovens que compram carros novos (20% contra a média europeia de 11%). Os nossos sub- -30 não só são aqueles que estão disponíveis para gastarem mais com o carro, como, ainda por cima, na sua esmagadora maioria (75% contra 57% no resto da Europa) declaram que só recorrem aos transportes públicos se não tiverem outra hipótese. E para o ano vamos ultrapassar os japoneses em número de carros por mil habitantes (583 contra 525).

Já toda a gente percebeu que não podemos manter a actual dependência do petróleo, mas a maioria dos nossos compatriotas não abdica voluntariamente do luxo do uso diário do carro, mesmo que isso implique queimar um ano das suas vidas a estacionar - e outro parado em engarrafamentos.

A solução é declarar guerra ao uso privado do automóvel. O próximo governo brilhará a grande altura se aumentar de forma drástica os impostos sobre os combustíveis, a venda e a circulação automóvel, imitar os espanhóis e baixar o limite de velocidade nas auto-estradas (que na prática é de 150 km/hora, pois ninguém é multado se não ultrapassar essa velocidade) e adoptar uma política severa de tolerância zero com os infractores - e investir o encaixe assim conseguido na reestruturação e melhoria da oferta do sector de transportes públicos.




segunda-feira, 11 de abril de 2011

Acaba por vir "na linha" dos últimos 30 anos de políticas agrícolas da UE...

Da União Europeia poderá estar para chegar uma medida verdadeiramente devastadora da nossa economia, do nosso património cultural e natural: uma Lei que regulamenta e certifica todas as Sementes.
 
Mais do que querer ser contra a certificação, o que realmente é grave é a muito residual margem que é deixada às culturas regionais.
 
Na prática, os agricultores não podem semear a partir das suas próprias sementes! Tudo passará por apertados processos de certificação que, na prática, concentrarão tudo em sementes homologadas por meia dúzia de empresas do ramo, assente em espécies convencionais. 
 
Já vimos isto no passado e já sabemos como acaba: acaba-se a pequena agricultura, acaba-se as culturas locais, tudo ficará normalizado.
 
O comércio de sementes não pode acabar como o resto da nossa agricultura, numa altura em que a agricultura local e de proximidade, potencialmente biológica e diversa, via uma oportunidade para renascer.
 
Esperam-se protestos, esperamos que firmes e consequentes junto do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Agricultura Urbana em Congresso, por estes dias

IMAGEM AQUI
 
Depois de anos e anos, gozando Gonçalo Ribeiro Telles por defender hortas nas Cidades (ou que os relvados fossem substituidos, sempre que possivel, por prados e predados por...ovelhas, em vez do corta-relvas), eis que um Município em Portugal (o Seixal) organiza um congresso internacional sobre o tema.

Com a crise em pano de fundo, percebe-se como importante é aplicar medidas de planeamento ambiental no território, que geram a chamada "RESILIÊNCIA" no território, constituíndo mecanismos de redução de despesa e capacitação das populações para reduzir gastos em deslocações, em energia e ainda custos financeiros associados.
 
Mais importante teria sido aplicar estas políticas como mecansimos de transição, para que agora estivessemos preparados com...RESILIÊNCIA.
 
Mas assim não foi, como todos sabemos, e será certamente agora, em tempos de crise, que uma transição, mais abrupta do que o desejável e mais dolorosa do que o necessário, se terá que fazer.
 
PS: não deixa de ser curioso constatar que há sempre quem aproveite os conceitos para os "adaptar" às circunstâncias. Agricultura urbana é uma ferramenta que, integrada no território, constitui um mecanismo activo de resiliência. Em Toronto, por exemplo, a agricultura urbana aparece fortemente associada à construção de novos edifícios, em terraços, num "evento" chamado "Cidade Cenoura". Será a agricultura urbana a "cenoura" para mais construção?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Apontamentos em tempos de austeridade

A despesa em Espaços Verdes:

Foto do Projecto da Quinta do Zé Pinto (no Facebook)

Em Campolide (Lisboa), 3 hectares de zona verde são uma resposta barata, eficaz, funcional e...até divertida para a crise financeira. Apesar de ridicularizados pela opinião pública quando, no Verão, de cereais de Verão se tratava (no caso girassóis), no Outono / Inverno é sempre mais fácil achar-se que se está verde...

Fazer do conceito de espaços verdes jardins floridos e relvados é, actualmente, impossivel. Impossível porque não há verba para essa construção, uma vez que estará cativa a problemas mais urgentes e mais prementes. Impossível porque cada metro quadrado de novo espaço verde significa um custo permanente desde o momento da inauguração.

Ainda há quem goze o Prof. Ribeiro Telles pelas Hortas Urbanas em vez de jardins e pelos rebanhos de ovelhas em vez de corta-relvas?


Transportes públicos e a revisão do défice de 2010"

"É preciso chegar à Refer, CP ou Metro do Porto e ver o serviço que prestam e qual é serviço público, porque nem todo o é. Depois, é necessário ver quanto custa e se estamos dispostos a pagar o preço [que pedem], porque podemos não estar", avançou no Clube dos Pensadores, em Gaia.  AQUI

O transporte público cumpre um papel fundamental nas sociedades modernas. Não podemos ficar espantados se em termos contabilisticos der prejuízo.
Isto porque as vantagens (o equivalente a parte da receita) está nas poupanças que os cidadãos fazem ao utilizá-los.
 Vejamos algumas "receitas" directas e indirectas para o Estado pela utilização de transportes públicos:

1. Menor endividamento das famílias por compra de carro próprio, gasolinas, oficinas, portagens, seguros, acidentes, etc, libertando investimento para outras áreas.

2. Menor carga viária, logo menor investimento do Estado em vias, logo menos despesa.

3. Menos custos com acidentes viários, congestionamentos, logo  poupança na saúde e na segurança social para o Estado. Poupanças de todos por chegarmos a horas ao trabalho. (nota: em dia de greve do metro de LIsboa, bem se percebe as vantagens do transporte público!...)

4. Menos poluição atmosférica, logo poupanças na saúde e no restauro de património.

5. Libertação de espaço público para outros investimentos, com influência na requalificação urbana e no comércio de proximidade.


Estamos a entrar em tempos perigosíssimos para os cortes contabilisticos. O ordenamento do território, o ambiente, o transporte público, no fundo a sustentabilidade ambiental, contabilisticamente, estarão por estes dias muito expostos a cortes por via do facto de  representarem despesas. Há que perceber que há poupanças a vários níveis que em muito compensam os gastos.
E não ver isso será, isso sim, gravíssimo. As crises podem servir para mudarmos de rumo, não para acentuar os erros.

 
Site Meter