sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Ainda sobre os princípios das Zonas 30km/h

Citizen Iniciative for 30km/h, AQUI
Criticar a aplicação das zonas 30km/h é um exercício arriscado, porque é sempre sujeito a más interpretações. A categorização das pessoas é mais rápida do que a tentativa de compreensão dos conceitos em discussão, pelo que tenho sido acusado de ser contra as zonas 30km/h (!) porque sou a favor da segregação na via e das ciclovias!...
É absolutamente correcto implementar medidas de acalmia de tráfego em zonas confinadas, de forma homogénea e com uma leitura coerente e única das intervenções. Ou seja, reduzir a velocidade "ad hoc", em ruas colectoras ou mesmo em algumas distribuidoras, é um mau princípio, porque afectando a fluidez onde ela deve existir, acaba por concorrer para um caos generalizado que, em último caso, permite utilizar ruas de acalmia como concorrentes à distribuição de tráfego. Mas em tudo o resto sim. Claro que sim. 
Qual é então o meu problema com as Zonas 30km/h?
Como pude tratar neste post há dias, preocupa-me o desenho urbano que a generalidade das regras das zonas 30km/h determinam, assente em principios rodoviários focados no objectivo "velocidade" e quase nada na coerência arquitectónica da rua, no seu todo.
Artigo de opinião da Consultora "TIS", AQUI
Esta imagem acima retrata, no quadrado da esquerda, principios de aplicação de medidas de acalmia que, na prática, determinarão, na prática,  a destruição da rua. Para mim, as medidas de acalmia com maior influência no desenho global da rua são as medidas que definiria de "horizontais", onde os eixos de rua são afectados. São as mais nefastas, pois anulam os pontos de escape visual da rua. É esse anular de perspectiva que se torna tão eficaz na redução da velocidade automóvel, mas é tão perigoso se não for absolutamente bem desenhado. 
Há cerca de 2 anos publiquei este outro post  em que referi alguns excelentes exemplos, no caso na Baixa do Porto. Excelentes porque os principios de desenho urbano da rua foram salvaguardados integralmente, exactamente porque foram aplicadas medidas ao nível da alteração de pavimentos, um correcto alinhamento do eixo viário e medidas extra com um carácter "vertical". 
Podemos dizer que os custos entre o que foi proposto recentemente em Campo de Ourique em Lisboa e o que se fez na Baixa do Porto não são comparáveis. Não são certamente. Mas há que perceber a dimensão do tipo de intervenções enquadradas no seu contexto teórico, para que havendo mais verba não haja o risco de construir más soluções. 
Foto de uma medida de acalmia de tráfego em Campo de Ourique, fotografada pelo jornal "Público" e divulgada pelo Blogue a Nossa Terrinha AQUI
É possivel aplicar muitos dos principios de acalmia de tráfego com eficácia sem destruir as ruas. Muitas vezes os custos são os materiais utilizados e as alterações da drenagem. É possivel, com bons principios de desenho, alcançar boas soluções de desenho, num compromisso custo-benefício.
O recente "Pacote de Mobilidade" do IMTT sobre esta matéria (disponivel AQUI) traduz-se um documento importante, mas valoriza também soluções com um carácter fortemente rodoviário, onde para mais os custos de alteração do perfil de rua acabam por ser tão dispendiosos como qualquer outro tipo de soluções com maior coerência. (ver foto seguinte).
 Foto de uma intervenção em Amesterdão (in IMTT, pag. 28)
A solução essa, seja qual for, passará sempre, mas sempre, por um bom desenho urbano.

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