quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

AVE (TGV) Madrid - Valência: Taxa de ocupação nos aviões caiu de 70% para 20%

São números impressionantes de desempenho energético e ambiental.
 
O comboio, neste caso o comboio de alta-velocidade, projeto tão contestado por cá, apresenta-se como um forte mecanismo de redução do tráfego aéreo e rodoviário.
 
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"O comboio de Alta Velocidade Espanhol (AVE) que liga Madrid a Valência entrou em serviço no dia 21 de Dezembro de 2010 e, passados dois meses, o tráfego aéreo reduziu-se muito mais do que se esperava. Durante o primeiro ano de funcionamento desta linha, acreditava-se que a quebra no tráfego aéreo seria cerca de 50%. A taxa de ocupação nos aviões caiu de 70% para 20%, o que vai obrigar a Ibéria a abandonar esta rota com os aviões A320, passando a utilizar aeronaves mais pequenas da AIR Nostrum. A Ryanair tinha três voos diários, mas vai abandonar a ligação entre as duas cidades por outras razões, que não têm a ver com o AVE.

No ano de 2010, o avião transportou entre Madrid e Valência cerca de um milhão de passageiros e, tendo em conta as perdas que estão a ocorrer, é provável que, em 2011, mais de 660 mil pessoas optem pelo AVE e pouco mais de 280 mil continuem a utilizar o avião.

Desde que a cidade de Málaga passou a ter a opção do novo comboio AVE, a rota aérea Madrid-Málaga perdeu quase um milhão de passageiros, comparando 2010 e 2007.

Na rota Madrid-Sevilha, a maioria dos passageiros (75%), que ainda utilizam o avião, são estrangeiros que desconhecem a existência do comboio de alta velocidade. Em Saragoça, as viagens de avião para Madrid já não existem porque as pessoas optaram pelo comboio. Aliás, a distância entre estas duas últimas cidades é semelhante à distância Lisboa-Porto.

Em Espanha, no início de 2011, já há mais de 20 cidades ligadas entre si através da nova rede ferroviária. À medida que a rede aumenta, o número de passageiros é maior e espera-se que o tráfego total anual, em 2011, atinja os 20 milhões de utentes. Ou seja, é tráfego que foi retirado à rodovia e avião.

Outro dado interessante é o número de pessoas que troca o automóvel pelo comboio. Neste momento, ainda não existem valores concretos, mas espera-se que o AVE substitua 25% das viagens que se efectuavam por automóvel. Esta percentagem poderia ser superior pela simples razão de que entre Valência e Madrid existe uma autovia onde não se paga portagem.


Poupança de energia...


Agora que a infra-estrutura já está a funcionar, sabe-se que o consumo de energia eléctrica de cada comboio tem um custo pouco inferior a 500 Euros (487) para percorrer 391 Km e pode transportar 400 passageiros, ou o dobro, se for utilizado um comboio duplo. Os custos de energia só representam perto de 5% do total pois a maior parte das despesas dizem respeito a manutenção do material circulante, da infra-estrutura e a pessoal.

A oferta do número de comboios é feita de modo a servir uma taxa de ocupação de 80% relativamente à procura. Se cada comboio transportar, em média, 320 pessoas, o custo por passageiro, relativamente ao consumo de energia eléctrica será cerca de 1,5 Euros (487/320).

Na rodovia, se a taxa de ocupação for de 1,5 passageiros por viatura, o gasto em combustível, para percorrer os mesmos 391 Km, atinge quase 30 Euros por utente sem contar com os gastos em manutenção.

Comparando com o consumo médio de uma viatura particular, chegamos à conclusão de que a poupança média anual em combustíveis terá um valor elevado.

Se cada passageiro trocar o automóvel e o avião pelo comboio, deixa de existir consumo de combustível fóssil e passa a existir consumo de electricidade. Por cada milhão de pessoas que opte pelo comboio, então, a poupança será de dezenas de milhões de Euros anuais.


...e outras vantagens


Além da poupança de energia existem outros factores que é necessário considerar. O transporte público permite criar três vezes mais postos de trabalho que o privado.

Relativamente aos custos externos, consideram-se os que incluem os acidentes, a poluição, problemas de saúde devidos ao ruído, alterações no clima e os engarrafamentos. Na linha que já existe do AVE Madrid-Sevilha, houve uma redução nos custos externos (acidentes, poluição etc) de 670 milhões de Euros desde 1992 até 2003, segundo dados do Ministério de Fomento espanhol.

A nova linha Madrid-Valência é exclusiva de passageiros, contudo, 75% da nova rede de bitola europeia, em Espanha, será mista para mercadorias e passageiros e permitirá a ligação directa e sem transbordos para toda a União Europeia. O argumento que mais justifica os elevados investimentos na nova rede ferroviária é, sem dúvida, o transporte de mercadorias."


Rui Rodrigues

Email: rrodrigues.5@netcabo.pt

Site : www.maquinistas.org



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