terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os patos de Ribeiro Telles e os ciclistas que aparecem

(Estacionamento de bicicletas num serviço da Câmara Municipal de Lisboa)
As ciclovias, em Lisboa e não só, são sempre um tema quente para muita gente. Não fujo a ele.
Conheço os seus defeitos e as suas perversidades e sei que em muitos casos são uma forma de compromisso determinados volumes de tráfego. 
Mas as suas vantagens são evidentes. Atraem gente para o uso da bicicleta, criando massa crítica para, ao poucos, se irem adoptando soluções de partilha da via. 
O número de ciclistas em Lisboa tem aumentado a olhos vistos e as tais ciclovias de que muitos não gostam estão efectivamente cada vez mais utilizadas. Há cada vez mais gente a ir de bicicleta para o trabalho ou para a escola.
À semelhança de outras cidades muito motorizadas têm cumprido muito bem o seu papel de fazer mudar costumes e em muitos casos trouxeram a qualificação de ruas e avenidas, associado a zonas verdes e melhor e4spaço público. Agrada-me ver isso reconhecido. Paula Moura Pinheiro escreveu esta crónica que abaixo retrato porque é alguém que é fora do chamado "meio ciclista". E talvez esse afastamento seja muito importante:

"NATUREZA, por Paula Moura Pinheiro, FONTE AQUI

Há uns anos tive uma das saídas mais cretinas que já me aconteceram em contexto profissional. Estava a seguir Gonçalo Ribeiro Telles para uma reportagem sobre as obras que viriam a resultar no Jardim Amália Rodrigues, no topo do Parque Eduardo VII, em Lisboa. A dado passo, o arquitecto diz: “tem de imaginar que aqui será o lago. Está a ver? Isto tudo água, com uma série de patos…” E eu digo: “Ah, patos. Que bela ideia. Vão pôr patos aqui.” O velho senhor fixa-me devagar: “Não. Não vamos pôr patos em lado nenhum. Vamos criar as condições – um lago – e os patos aparecem naturalmente. Olhe, muito provavelmente alguns virão do lago da Gulbenkian.”

Glup. Pois claro. Criam-se as condições e as coisas acontecem.

Nunca mais me esqueci deste diálogo. Não tanto por ter feito de tonta com um velho sábio, mas porque os patos, efectivamente, apareceram. Ao longo dos anos tenho testemunhado como são muitos e vivazes, como chegam e partem livremente. Apenas porque ali encontram condições apetecíveis, adequadas.

Quando em Lisboa se começaram as obras para os percursos pedestres e para as ciclovias não faltou a habitual vozearia contra o despesismo e o transtorno e a falta de lugares de estacionamento. Na minha família, os mais velhos foram particularmente críticos. Para quê? Quem é que vai andar de bicicleta ou correr na cidade das sete Colinas?! E eu sismava nos patos. Criam-se as condições e eles aparecem. Talvez, dizia para comigo, talvez o sedentário lisboeta se ponha finalmente a pedalar ou a fazer corridas ao fim da tarde.

Hoje, é vê-los. São tantos, são cada vez mais. Criam-se as condições e as coisas acontecem. A natureza tem tanto para nos ensinar."

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