quarta-feira, 9 de maio de 2012

Porque é que o pilarete, a seguir ao cão, talvez seja o melhor amigo do Homem


A propósito da infelicidade de uma pessoa conhecida minha ter caído por causa de um pilarete na ciclovia da Av. Duque d´Avila, com consequências felizmente não muito graves para a própria, mas com alguns danos físicos e materiais nada desprezáveis e muito de lamentar, e que geraram um post no "Facebook" onde a ira, talvez até compreensivelmente do seu ponto de vista, se vocacionou contra a existência de, no seu entender, "uma floresta de pilaretes".

Pois, este post e, sobretudo alguns comentários que se seguiram, mais uma vez comprovam duas coisas:

A primeira conclusão, especificamente sobre os pilaretes: o espaço pedonal que temos, o pouco que temos, está invariavelmente defendido "a ferros". E quando não o está...



Mercado da Encarnação, onde não há pilaretes a delimitar a área pedonal. Lisboa, 2011.



Praça de Londres, com os espaços pedonais "defendidos a pilaretes", Lisboa, 2011.

Os turistas costumam comentar que temos muitos pilaretes, mas a verdade é que quando não os temos, os carros não falham a sua presença e, com a argumentação mais variada, deixam "por dois minutinhos" o carro ali parado, vão entupindo e assassinando o usufruto pedonal. 

O que seria da Avenida Duque d´Ávila sem pilaretes? 




Fotos da Duque d´Ávila tiradas a 09/05/2012, cortesia JC.

Não tenho duvidas, seria um enorme parque de estacionamento. 
Os automobilistas estacionariam "à vez", não como as fotos que aqui coloco demonstram, mas invadiriam literalmente os espaços pedonais. Cada acesso de garagem seria uma via de acesso para depois estacionar na perpendicular. Seria possivel ter, pelo menos, 8 veículos estacionados em cada acesso, 4 de cada lado.
Então o que fazem os pilaretes neste projecto? 
Delimitam estritamente os acessos transversais a garagens ou lojas, cuja pré-existência a isso o obrigou em matéria de projecto.

A Avenida Duque d´Ávila é uma obra que impressiona pelas alterações que produziu neste arruamento, com claro benefício para os peões e ciclistas. 


Foto da Duque d´Ávila, 2011, cortesia AN.



Foto da Duque d´Ávila, 2011

Uma rua cheia de carros transformou-se num espaço de eleição para o peão, sem bem que só o é em boa medida porque está defendido "a ferros". A dinâmica que se gerou nos últimos meses em matéria de requalificação comercial, bem visível pelo número de esplanadas que já se instalou, mas pela quantidade de estabelecimentos que entretanto têm em curso obras de remodelação, vai mudar para sempre o uso da rua. Mas até lá, o estacionamento indevido, uma "fatalidade / impunidade" poderia comprometer a dinâmica em causa. Foi para mim uma boa aposta, sem bem que no troço poente da Avenida, a sucessão de entradas de garagem configure, à primeira vista, análises precipitadas das suas opções.



A segunda conclusão que tiro deste acontecimento, e de um conjunto de comentários que se lhe seguiram, vem comprovar algumas das teorias que tenho a propósito das incapacidade dos "ciclistas de Lisboa" gerarem o mínimo consenso em torno deste assunto e definirem uma estratégia coerente e exequível para a promoção da bicicleta. 
Um acontecimento, diria mesmo qualquer acontecimento menos positivo sobre o que se vai fazendo, e por vezes parecendo esquecer o muito que foi conseguido (como é aqui o caso da Av. Duque d´Ávila, também ela neste caso e a propósito deste primeiro caso de acidente que tenho conhecimento, alvo de muitas críticas, a maioria levianas e sem conhecimentos prévios que as suportem), constitui matéria de análise e crítica em detalhe para toda a estratégia em curso, passando uma ideia distorcida da realidade para quem esteja "fora" deste contexto muito próprio que é o que chamo de "a bicicleta".
Estes ciclistas, os que estão ou já estavam habituados a circular em Lisboa são, infelizmente, uma ínfima minoria que, não só não é representativa dos muitos potenciais ciclistas a quem se destina o investimento que, finalmente, se está a fazer em Lisboa pela bicicleta (e contra muitas vozes que, da esquerda à direita, ridicularizavam) como também não apresentam nenhuma estratégia alternativa credível. Apresentam soluções? Sim, algumas soluções sim, mas estratégias não. 
E é de estratégia que precisamos, porque de teorias, "power-points" e bibliografia de casos internacionais, todos lemos muito e há para todos os gostos! O que é preciso é agir e saber como agir. 

Então, estamos juntos contra o automóvel? É essa a estratégia? 
E onde é que isso foi feito só assim, para além de casos pontuais (e mesmo assim...)
O automóvel existe e vai continuar a existir, o que precisamos é de moderar o seu uso e equilibrar os outros meios de transporte, nomeadamente os modos suaves, peões e bicicleta, que em Lisboa, repito, são ainda residuais, apesar do crescimento notório da bicicleta nos últimos tempos.

O cidadão que ainda temos é o cidadão inseguro quanto ao uso da bicicleta, sem confiança, sem cultura "ciclista" e muitas vezes com um bom conjunto de motivos para não usar a bicicleta, como a falta de espaço de parqueamento em casa ou no local de trabalho, longos trajectos, etc. 
Seja a forma física, seja a falta de prática, sejam os trajectos em causa, seja o que for, os ciclistas, e há alguns que o fazem, devem concentrar-se em falar para quem não anda e compreender as razões porque não se anda e procurar invertê-la com medidas concretas.

"Ciclovias? Não é o caminho!" 
Disparate! Ciclovias podem também ser o caminho, mas não são a receita para tudo. 
Mas numa Cidade como Lisboa, sem tradição ciclista recente, sem cultura e prática ciclista e com algum relevo, há situações em que só a segregação pode conduzir ao uso da bicicleta.
Fico pasmado com a facilidade com que jovens de vinte e tal anos exigem publicamente em fóruns de cirsusão espaços partilhados para toda a gente em determinadas situações viárias! É caso para dizer que o "umbigo" por vezes tem muita força.

E talvez seja por isso que a Duque d´Ávila, ao contrário de todas as Avenidas paralelas naquela área, com o mesmo declive e ligando os mesmos pontos, tem mais ciclistas. 
No outro dia, da janela da sala de espera de um consultório médico a que fui nessa Avenida, enquanto esperava pela consulta, pelas 19h, ainda Inverno e de noite, passaram em cerca de 20 minutos 9 (nove) ciclistas. 
Gostava de saber quantos passaram nas ruas paralelas, mesmo aquelas que pouco ou nenhum tráfego têm...

"Ciclovias sim, mas não da forma como estão a ser feitas". 
Sim, há sempre melhorias a fazer, todos os sabemos. 
Mas como estamos cada vez mais rodeados de especialistas, não há motivo para não se ir melhorando. 
Pelo que até os técnicos que sabem desenhar espaço público em todas as suas vertentes, mas que "nunca andam de bicicleta na cidade" e que "gostam é de ciclovias" e que se calhar até "estão ligados aos vendedores de pilaretes" agradecem as chamadas de atenção e garantem que as vão incorporar, sempre que aplicáveis, nas tomadas de decisão e nos projectos.

Cuidado que esse argumento de que "as coisas não estão a ser bem feitas" foi usado à exaustão pelo Presidente da Junta de Freguesia de Carnide em Lisboa (eleito pelo PCP) no Verão de 2009 quando, à sua porta, a pretexto de se fazer uma ciclovia, se requalificou a Avenida do Colégio-Militar, passando de 4 para 2 faixas. Foi de tal forma a contestação que até uma providência cautelar foi por ele interposta, felizmente (e naturalmente diga-se) recusada pelo juiz como não tendo fundamento. 
A obra está lá, a Avenida do Colégio Militar está mais segura, mais arborizada, mais civilizada e, na mesma, muito funcional, e "apenas" com 2 faixas. 
"Vai ser o caos do tráfego" dizia o Presidente da Junta...Vão lá ver, nem à hora de ponta...
Há outros casos, como o Presidente do ACP, que escuso  de comentar.
E até neste caso da Duque d´Ávila, outro exemplo. Muita contestação, que tirava o estacionamento... Hoje, o orgulho de todos. 
Bem, de quase todos.

Sim, porque no meio de tudo isto também há alguma política. 
Já agora, quando é que em vez de perder tanto tempo a criticar a Lisboa que faz, não perdemos 10% das nossas forças a olhar aqui ao lado, veja-se Cascais, veja Oeiras (entre outros), em que nada se faz pela bicicleta? 
Parece que às vezes é melhor não fazer nada, vive-se melhor assim e, na verdade, o automóvel é a maioria. 
As bicicletas "dão votos"? Disparate! 
Os automóveis é que dão e toda a gente sabe isso. E porquê? 
Porque há poucos ciclistas e muitos automobilistas. 
E é por isso que o discurso "ciclista" negativista e elitista tem que mudar, tem que passar dos debates fechados "entre ciclistas" e "para ciclistas", para um discurso mobilizador "para fora", gerador e motivador de boas práticas e de mudanças concretas, que se vejam, e que as pessoas percebam "Sim, é possivel". 

É esse o discurso que procuro e quanto ao resto, cada vez me interessa menos. 
E não tenho problemas nenhuns em dizê-lo e muito menos em escrevê-lo. 
Quantas vezes for preciso. 


9 comentários:

  1. Olá Duarte,

    Os pilaretes, em Lisboa, Oeiras ou Cascais, não seriam necessários se a polícia cumprisse o seu dever.

    A curto prazo, poderia ser muito mais difícil obter resultados. No entanto, em poucos anos, com uma acção fiscalizadora e, sobretudo, punidora, o resultado seria poucos ou nenhuns carros sobre os passeios.

    E, com uma enorme vantagem! Durante esse período de adaptação, não só não teríamos os avultadíssimos custos com os pilaretes, como ainda haveria uma receita adicional originada pelas multas efectivamente cobradas.

    Quanto à Duque de Ávila, essa avenida está, hoje, muito melhor do que era antes da obra. E, eu não tenho dúvidas de que parte do aumento do número de ciclistas em Lisboa é graças às ciclovias que, entretanto, foram construídas.

    No entanto, mesmo aí, houve um erro crasso cometido. O facto da ciclovia estar ao nível do passeio faz com que esta seja, frequentemente, invadida por peões incautos. O mesmo se passa com a maior parte das outras ciclovias. Os conflitos entre peões e ciclistas começam a surgir, e tanto acontecem porque as ciclovias estão nos passeios, como porque os ciclistas se habituam a circular nos passeios, onde não há ciclovias.

    Sabemos alguns dos motivos porque as ciclovias estão nos passeios e não na rodovia. No entanto, e já que falas de estratégia, esses motivos são mais um forte sinal de ausência de uma estratégia camarária única e integrada. Existe vontade de uns, mas esbarra na teimosia de outros.

    abraço

    RF

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    1. RF,

      Fiscalização o mais possível! Já viu a diferença por exemplo em redor dos estádios de futebol em dias de jogo? Evoluiu-se muito mas há tudo por fazer. Há algum sítio em Portugal onde só com fiscalização se tenha resolvido o problema?
      E diz que as ciclovias estão nos passeios. Há casos em que não estão e há casos em que estão ao nível do passeio mas foi espaço "ex-viário". Foi um passo muito difícil apesar de tudo, muito longe de ser popular e muito longe do ideal.
      Os peões a usar as ciclovias acontece em todo o lado, já vi na Alemanha, na Dinamarca, na Suécia. Aqui é novidade, logo é pior.
      Há conflitos entre peões e ciclistas também porque agora há ciclistas. Quando abrimos as ciclovias não havia conflitos...
      Abraço

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  2. Viva,

    Alguns comentários:

    1o - os pilaretes não são a única, diria até que nem a mais eficaz (face à destruição sistemática dos mesmos que se vê em muitos locais), forma de dissuasão do estacionamento em cima dos passeios. Para fiscalizar e punir o estacionamento selvagem, estão cá a PSP/PM, não? Curiosamente, as chefias dessas entidades remetem para a responsabilidade das CM, que a eles o que os preocupa é que flua o tráfego. Se as CM então sacodem a água do capote da sua responsabilidade de _manter_ e _fiscalizar_, limitando-se a colocar pilaretes, ficamos na mesma. Mal.

    2o - Se as críticas que se fazem à CML e às ciclovias parecem levianas, pois é porque a CML também é muito parca em esclarecimentos. E não é por falta de perguntar.

    3o - Fala de estratégia...Pois bem, que estratégia é que está subjacente à construção de ciclovias nos passeios, ciclovias sem ligações umas com as outras, a desaguar muitas vezes em interrupções inesperadas ou atirando ciclistas para cima das passadeiras, como é norma, inclusivamente na mui valorosa experiência da Duque de Ávila?

    4o - "O automóvel existe e vai continuar a existir, o que precisamos é de moderar o seu uso e equilibrar os outros meios de transporte" Não podia estar mais de acordo, mas então que estratégia de equilíbrio é esta em que para acomodar mais um modo (bicicleta), se vai retirar espaço a quem já o tem escasso (peões)?

    5o - Os cidadãos não são parvos, nem todos crianças, por isso é escusado o paternalismo do estereótipo do ciclista "inseguro quanto ao uso da bicicleta, sem confiança, sem cultura "ciclista". Por experiência, nada disso dura mais do que 3-4 saídas enquadradas por alguém confiante e que aconselhe a gerir situações de conflito com outros modos. E depois, que ajuda é que é suposto darem, a quem se inicia, as vias segregadas que acabam em...nada, em cruzamentos, em ruas de tráfego intenso, como infelizmente se vê muito por essa Lisboa fora? Não é sério, nem é estratégia nenhuma, é desenrascanço.

    Finalmente, para mim e muitos outros que andam há pelo menos 10 anos (antes deste executivo camarário estar em funções e numa altura em que já havia ciclovias, que não foram invenção recente em Lisboa) a mostrar quotidianamente que "Sim, é possível" largar a dependência do automóvel particular e adoptando um discurso "mobilizador, para fora, gerador e motivador de boas práticas e mudanças concretas", não canso de me espantar com a arrogância e autismo com que nos deparamos da parte da Câmara, que faz o que bem entende sem consultar ninguém, sem respeitar os seus próprios regulamentos e, sobretudo, sem se preocupar com a "estratégia" que você diz faltar à comunidade de ciclistas.

    Não tenho problemas nenhuns em dizê-lo e muito menos em escrevê-lo. Quantas vezes for preciso.

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  3. Caro João Peixoto,

    Obrigado pela réplica.

    1. A polícia fiscaliza e vou ter o prazer de divulgar breve algumas fotos em que o pilarete foi tirado para deixar entrar dezenas de carros para cima de um jardim. Mas infelizmente toda a gente prevarica e por isso os meios de combate são insuficientes. Acredito que ache que é falta de vontade, mas...

    2.A CML devia responder sempre e tem mostrado publicamente a sua estratégia. No que me toca tenho as respostas guardadas e catalogadas para evitar injustiças. E há reuniões com os interessados, recebemos toda a gente e toda a gente fica registada no dia em que veio reunir, os e-mais trocados, etc.
    Nem sempre se responde é o que as pessoas queriam ouvir, mas quem toma decisões tem que assumir as responsabilidades pelo que diz.

    3. Há ciclovias nos passeios mas há ciclovias em espaço viário, aliás uma delas contestada veementemente pelos cidadãos por tirar espaço viário, como tive oportunidade de escrever no post. Acho que o problema é só queremos ver o que nos interessa. Aliás o meu post é sobre isso.

    4. respondido em 3. Estou a catalogar vários exemplos que divulgarei e que demonstrarão, com fotos, que mesmo algumas ciclovias que se dizem estar "fora da via" eram espaços de estacionamento (ilegal)...

    5. Os cidadãos não são parvos mas também não andam de bicicleta. Peço desculpa, há umas centenas que andam, são cada vez mais, mas continua a ser gente entre os 18 e os 40 anos principalmente. E isto nem em Lisboa nem em Aveiro. Logo o problema não são as colinas, deve ser outra coisa.
    Já tentei levar muita gente a andar, mas na verdade elas vêm, mas só comigo. Sózinhas voltam a ter medo. Deve ser problema meu.
    Vias que acabam em nada? Uma rede não se faz de um dia para o outro, está-se a fazer e se correr bem uma rede de percursos contínua ficará feita. Por vezes vejo que não tem conhecimentos sobre os procedimentos de gestão de planeamento e projecto, tramitação de verbas e como se gerem os processos, senão não diria isso. O processo pretende-se contínuo mas tem regras e demoram tempo, já para não falar de contingências orçamentais.

    6. Já ando de bicicleta há bem mais de 10 anos, fazia Carnide - Saldanha diariamente e, infelizmente, sempre sózinho. Nunca vi mais nenguém.
    Na altura havia em Lisboa 1 ciclovia em Telheiras, com um traçado sinuoso, interrompida, a terminar e começar em sítio nenhum e colocada em parte sobre o passeio. Não é novidade para si que só havia isto. Espero que isto não fosse para si um bom exemplo e não é comparável ao que hoje existe.

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  4. Duarte,
    No caso da Duque D'Ávila, porque não se optou por colocar a ciclovia do outro lado, junto ao passeio (onde não há estacionamento), mas ao nível do piso, como foi feito em Telheiras na zona do Parque dos Príncipes?

    Acho que o João Peixoto e o RF já disseram muito, por isso não me vou alongar. Fala-se muito em falta de meios, mas o que eu vejo é outra coisa, pois a PSP nem multa passa. Por e simplesmente fica ali ao lado dos carros como se nada fosse.

    Quanto aos jogos de futebol, moro ao lado do teu clube e acredita que o problema está quase na mesma! Vê-se policia, sim senhor, mas actuam numa área muito reduzida. Já me fui queixar dizendo que estavam a bloquear a minha garagem e disseram-me que isso não era com eles, mas sim com os da esquadra :p

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  5. Duarte,

    Quanto à falta de fiscalização, é falta de vontade sim. Veja-se que, em casos pontuais (lembro-me por ex. da visita de Sua Santidade o Papa), não houve pejo nenhum em varrer o centro de Lisboa de carros mal estacionados. Quando há vontade, faz-se pontualmente. Porque não se faz, por exemplo, uma campanha de 1-2 semanas, para começar, a ver o resultado?

    A CML responde sempre? Não é a minha experiência. Só para citar um exemplo, contribuí para elaborar um requerimento que está há 2 anos (acabadinhos de fazer) à espera de resposta. E não se trata de ter a resposta que se quer ouvir (lá está, não assuma à partida que quem se dirige à CM é assim tão básico), é mesmo não ter resposta _nenhuma_. Friso que falo da CML instituição, não do Duarte ou de outro caso isolado. Eu quando tenho um assunto a tratar com a CML dirijo-me à instituição e não ao Zé ou Manel que por acaso sei que trabalham lá dentro. Não é assim que as coisas deveriam funcionar.

    Sei bem das razões que impedem uma pessoa de adoptar a bicicleta na cidade de Lisboa porque já acompanhei a iniciação de umas quantas. Sim, é verdade que o sentimento de insegurança é um factor relevante, mas não inultrapassável. E depois, repito, como é que vias segregadas que acabam em ratoeiras (quer que lhe mande fotografias? Há muitos exemplos por onde escolher) são solução para reconfortar essas pessoas? Um padrão que vejo tantas e tantas vezes é: início na ciclovia, passeio, estrada; por ordem de experiência.

    Para quem está tão preocupado com os ciclistas inexperientes (o que acho muito bem), não percebo como pode tolerar que esses ciclistas se sintam "lançados às feras" quando transitam numa ciclovia de Lisboa e têm que gerir os cruzamentos. Quer relatos? Também se arranjam.

    Realmente eu não tenho "conhecimentos sobre os procedimentos de gestão de planeamento e projecto, tramitação de verbas e como se gerem os processos" numa Câmara Municipal. Nem quero ter, já me basta trabalhar há 10 anos no sector privado, sempre por projectos, sempre com planeamento, orçamentos e prazos a cumprir, com penalizações bem pesadas em caso de incumprimento, quiçá de valores que nem lhe passam pela cabeça (ex: 100 m€ por cada dia de atraso, acha pouco?)

    Em última análise eu percebo os constrangimentos a que na CM está sujeito quem planeia obra: não percebo é que a atitude em resposta a esses constrangimentos seja complacência e lamentação. Tentasse eu o mesmo com os meus patrões e não durava uma semana.

    Finalmente, eu percebo o argumento central desta peça, que é a pouca vontade de dialogar que assola muito activista pela bicicleta, que se fica pelo bota abaixo. Esse barrete eu não enfio. Não enfie você também o barrete do injustiçado e veja as críticas válidas que se fazem à _instituição_, perceba de onde elas vêm, que o diálogo há-de fluir muito mais facilmente.

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  6. Caro Arquitecto Duarte Mata
    Já nos cruzámos num passado recente e desisti de conversar consigo, porque permita-me que lho diga com o devido respeito, está cego com as ciclovias que espalhou pela cidade. Quando eu julgava que poderia contribuir para a melhoria da qualidade do trabalho que o Duarte já havia realizado (e que lhe reconheço mérito pelo empreendorismo e determinação), exacerbou o discurso e viu em mim um detrator, um inimigo das ciclovias em vez de um aliado para o poder ajudar na perspectiva de ciclista e de segurança rodoviária.
    Se fosse obrigatório submeter o projecto das ciclovias a uma auditoria de segurança rodoviária e/ou cicloviária (esse trabalho tenho-o praticamente concluído a nível nacional), ficaria a perceber os erros que foram cometidos e o quão afastados estamos do padrão de segurança. Lamentavelmente, posso referir que todos os casos que detectei aqui e ali espalhados nos cerca de 700 km de ciclovias percorridas, repartidos por 92 dos 308 concelhos, estão, infelizmente, condensados em Lisboa e há muitos outros ainda que não encontram paralelo em mais nenhuma parte do país.
    Ciclovias, sim senhor, mas não como as que existem, quer na sua tipologia, quer no modo da sua implantação, quer sobretudo na forma como foram construídas, reprovável a todos os títulos.
    Do ponto de vista da segurança rodoviária são tudo aquilo que se deveria evitar. São, por isso, objecto de um rotundo chumbo nacional.
    Do ponto de vista do utilizador são desconfortáveis e desencorajadoras ao seu desfrute. Presumo que tenha circulado por ciclovias em cidades alemãs, holandesas e dinamarquesas e decerto não terá constatado igual desconforto.
    Quanto aos pilaretes, não admira o espanto dos turistas. Não são nenhum mal necessário como é comum afirmar-se. Resultam apenas da incapacidade de pensar e desenhar o espaço público de outra maneira e esse é o maior desafio que se coloca a todos os agentes e técnicos que lidam com o tema.
    Os outros países têm problemas de igual natureza mas resolvem-nos de outra maneira, porventura com elementos ornamentais ou geometrias impeditivas ou desencorajadoras do estacionamento irresponsável ou criam condições satisfatórias de parqueamento automóvel em silos criados no interior de prédios devolutos, mantendo apenas as fachadas.
    As costas voltadas entre arquitectos e engenheiros, nomeadamente de tráfego, é uma das causas prováveis para o desnorte urbanístico nas principais cidades do país e isso já o senti na primeira pessoa. Nem uns, nem outros, detêm a verdade absoluta sobre matérias relacionadas com o espaço público. Isso ficou bem patente no "desastre" viário da Expo'98 e está agora também bem patente no caso das ciclovias instaladas em todo o país que vestem uma pele de cordeiro, quando na verdade são autênticos lobos, puras armadilhas em que já assiti a incidentes com crianças e adolescentes pela falsa segurança que induzem e que não resultaram em atropelamentos por mero acaso.
    Todos cometemos erros e seria importante que aprendessemos com os mesmos, nossos e dos outros, para os não tornar a repetir.
    Desejo vivamente que seja sensível às críticas dos utilizadores das bicicletas e que elas o ajudem a melhorar a qualidade das ciclovias que vier a projectar e, porque não, melhorar as que já existem.
    José Garcia

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  7. Caro José Garcia. Falámos uma vez, julgava que tinha corrido bem a nossa conversa, mas afinal vejo que já "desistiu de conversar comigo".
    É pena, porque entendo que o seu contributo foi e continua a ser importante. Mas diga-me, o que esperava então da nossa conversa para estar já tão desiludido?
    Com os melhores cumprimentos

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  8. A melhor maneira de fazer da bicicleta um transporte de eleição para movimentos urbanos só pode ser feita com a criação de espaços próprios tratando-o como outro qualquer transporte, criando condições e motivando a sua utilização nas vias. Ora, fazer isto criando novas vias, para além de não ser económicamente viável é uma limitação e, em alguns casos mesmo usurpação de espaço público. Como tal acredito que a 'solução' passa pela adaptação de uma faixa de rodagem a velocípedes nas grandes artérias e acessos, criação de condições para transporte e acondicionamento de bicicletas em locais e transportes públicos e, ao mesmo tempo sensibilização de condutores de veículos motorizados e de velocípedes para o respeito das Leis e Códigos vigentes bem como da população em geral para o respeito do Espaço.

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