quarta-feira, 25 de maio de 2011

Porque é que o PAN não é, pelo menos para já, um Partido Ecologista

IMAGEM "Gato" RETIRADA DO SITE DO PAN

IMAGEM Lameiros: AQUI

Já aqui dei conta de que "os Verdes" não são e não servem como bandeira da ecologia política. Considero até que, o facto de nunca terem ido a votos sozinhos, fizeram um mau serviço à Ecologia Política em Portugal: desacreditaram-na, tornaram-na pequena e sectária, numa espécie de "satélite" que congrega apenas as sensibilidades do Ambiente, exactamente o problema que a Ecologia Política nunca pode fazer, já que ela própria deve e pode constituir doutrina política.

Falei no post anterior porque é que o MPT, ao migrar em definitivo para a direita do espectro político, não pode representar a ecologia política.

Agora apareceu o PAN, o Partido dos Animais e da Natureza.
Inicialmente dos animais, e depois também da Natureza, o PAN escolheu como centro do seu Programa a protecção animal. E só depois as pessoas...
A provar isso mesmo basta ler o Programa Político e contar as medidas de bem-estar animal (36) e as medidas de protecção social: apenas...7!

Sou a favor da protecção animal, e concordo com muitas das medidas anúnciadas pelo PAN, e até acrescento a colocação em causa de boa parte do triste espectáculo que nos é oferecido pelos animais em jaulas nos Zoos das nossas Cidades...curiosamente o PAN, nas suas 36 medidas, nada disse sobre isso! Os Zoos, em plano Século XXI, permitem aprisionar todo o tipo de animais selvagens e torná-los figurantes, normalmente com ar triste e muito abatido, para os urbanos verem!
Numa época de internet, plasmas, 3D, i-phones e visitas virtuais, os Zoos, mesmo para os defensores dos animais são, pelos vistos, aceitáveis? Regista-se!
(nota intercalar, para o papel excelente dos Zoos na recuperação de animais doentes ou feridos ou para auxiliar a salvaguarda das espécies em perigo de extinção. Para mim, o único critério admissível para um Zoo moderno.)

Mas os partidos ecologistas devem apresentar-se, acima de tudo, com uma preocupação Humanista. A espécie humana não está ao mesmo nível dos animais e as Paisagens que temos e que queremos ecológicas e em equilíbrio ecológico, só o podem fazer se estiverem assentes numa lógica agro-pecuária. A humanização das Paisagens, entendida infelizmente como a degradação das mesmas pela urbanização, sobre-exploração ou contaminação, deve ser sim entendida como o equilíbrio entre o Homem e o Meio.
Como se mantêm os nossos lameiros se não existirem animais? Cresce o mato? Corta-se com maquinaria a gasóleo?
E os montados? Servem só para a cortiça? E as bolotas não podem servir para o gado que pasta ao ar livre, de forma sustentável e que mantém um ecossistema único?
E o papel das raças autóctones de gado no moldar e conservar de forma eficiente as nossas Paisagens?
E o papel da actividade cinegética, quando devidamente regulamentada e, infelizmente, diria no contexto actual, mais "domesticada", na regulação das cadeias alimentares e da Biodiversidade?

Temos um problema hoje de excesso de carne, de uma alimentação excessivamente proteica, desequilibrada, do "bife com batatas" dia sim, dia não, do colestrol e da gordura. Mas, assim como um dono de um animal de estimação não pode ser confundido com alguém que permite que o seu animal suje a via pública, comer carne não pode significar apoiar os aviários industriais, o transporte de animais sem respeito, os antibióticos e rações sintéticas, as descargas sem lei.

O respeito pelos animais deve fazer-se dentro do contexto do respeito pela Paisagem, como Unidade macro de equilíbrio ecológico.
Só defender os animais e acrescentar depois "e da Natureza" é um passo em falso, e a meu ver não responde às questões que a Ecologia Política pode dar perante os problemas do dia-a-dia dos cidadãos, do País e rumo a um futuro melhor.

E tenho pena de, num mesmo post, ter que referir e logo três partidos, ditos "verdes" e não conseguir concordar com nenhum deles!

Nota: Lendo o Programa do PAN, medida a medida, muitas são as concordâncias.
Quem sabe se esta sensibilidade, que pela primeira vez se apresenta a eleições, é compatível com desafios de compromisso num âmbito de um campo ideológico ecologista.

3 comentários:

  1. Concordo com muito da sua opinião. Permita-me porém sugerir que observe a questão dos Verdes do seguinte ponto de vista.
    Provavelmente, devido à reduzida consciência ambiental e à fraca sensibilidade para as questões da ecologia do nosso povo, se os Verdes concorressem não coligados na CDU não obteriam deputados eleitos, ou quanto muito apenas um e não poderiam dessa forma formar um Grupo Parlamentar. Se por um lado, e partindo do pressuposto que não teriam sozinhos representação eleitoral, o PCP oferece a um Partido Ecologista -porque é disso que se trata e basta ver a atividade parlamentar e o contributo legislativo- dois deputados que de outra maneira seriam... comunistas.
    Volto a frisar que concordo com quase tudo do que escreveu. Estou só a sugerir outra abordagem.
    Os media em geral não dão grande cobertura à atividade dos Verdes e é frequente pedirem opinião a associações de defesa do ambiente, quase sempre à Quercus, mas nunca a um Partido com acento parlamentar.
    Também nos podemos perguntar, porquê?

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  2. Caro Humberto:
    Reconheço a estratégia pragmática de "os verdes", nos anos 80, de uma forma hábil e, porque não dizê-lo, útil, de poder falar desde a sua criação da ecologia política e de ter voz activa!
    O mal foi protelar eternamente a coligação, tornando-se como diz afinal em "comunistas" com a particularidade de terem sensibilidade ambiental?
    Nesse caso, considero útil que sejam eleitos dentro do PCP, defendendo as mesmas ideias ambientais. Parece-me mais transparente e qual seria o mal disso?
    Atá para o PCP me parecia mais verdadeiro, do que ter uma "lua" para aparecer em coligações eleitorais.
    Passados quase 30 anos, "os verdes" nunca foram a 1 eleição sózinhos? Como se explica isto? Qual o futuro disto?
    Para quê as Convenções em que "os Verdes" reunem para debater os resultados da Coligação e "decidir" se vão novamente a votos ou não em coligação, se apoiam ou não um candidato presidencial do PCP? São encenações de má representação, é o descrédito total...
    Imagine-se que o CDS-PP, por hipótese, criava um satélite, com ideias, repito por hipótese extremistas do ponto de vista ideológico, económico ou religioso e que, sempre em coligação ia elegendo para o Paralemento deputados! o que diria a esquerda disso?
    (espero não lhes ter dado ideias...)
    Cumprimentos Duarte Mata

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  3. As hipóteses que o Duarte põe, mesmo as mais absurdas, não andam muito longe da prática e basta ver o cabeça de lista por Lisboa nas listas do PSD ser ocupado por uma figura cada vez mais polémica na política nacional, de nome Fernando Nobre, que mantém o epíteto de independente. Enfim...

    Sobre a democraticidade do funcionamento dos Verdes não me posso prenunciar porque não tenho informação nessa matéria. O que sei, por razões profissionais tenho de assistir, é que grande parte das reuniões magnas dos maiores Partidos não ficam a dever muito ao debate livre de ideias, quando não passam apenas de "encenações" e rituais de poder.

    Voltando ao concreto da ecologia partidária, acho que podemos (devemos?) avaliar os Partidos pela sua coerência ideológica e acção legislativa. Neste aspecto creio serem Os Verdes um Partido com ideias concretas e coerentes para a defesa do ambiente e com iniciativas legislativas concordantes com esse interesse.

    Sendo de facto um Partido concorrente às eleições de dia 5, sendo de facto um Partido com um currículo de acção na defesa das suas ideias, podemos inclui-los nas opções do nosso próximo voto. Podemos até, se a tanto nos interessarmos, participara nas suas estruturas e contribuir para um debate que leve à adopção de um caminho diferente do até aqui seguido, em matéria de coligações eleitorais.

    Abraços.

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